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Carl Sandburg

A Grade

Agora, a mansão à beira do lago já estáCarl_Sandburg
concluída, e os trabalhadores estão
começando a grade.
São barras de ferro com pontas de aço, capazes
de tirar a vida de qualquer um que se
arrisque sobre elas.
Como grade, é uma obra-prima e impedirá a
entrada de todos os famintos e vagabundos
e de todas as crianças vadias à procura de
um lugar para brincar.
Entre as barras e sobre as pontas de aço nada
passará, exceto a Morte, a Chuva e o Dia de
Amanhã.

Carl Sandburg
Tradução de Alexandre O’Neill

Rápido

Viajo de rápido, num dos melhores comboios do país.
Lançados através da pradaria, da névoa azul, no ar escuro,
correm quinze carruagens com mil viajantes.
Todas estas carruagens serão, um dia, montes de ferrugem;
homens e mulheres que riem
no vagão-restaurante, nas carruagens-camas, hão-de acabar em pó.
No salão dos fumadores pergunto a um homem qual o seu destino.
«Omaha», responde.

Carl Sandburg
Tradução de Alexandre O’Neill

Sopa

Vi um homem famoso comer sopa.
Vi que levava à boca o gorduroso caldo
com uma colher
Todos os dias o seu nome aparecia nos jornais
em grandes parangonas
e milhares de pessoas era dele que falavam.
Mas quando o vi,
estava sentado, com o queixo enfiado no prato,
e levava a sopa à boca
Com uma colher.

Antologia Poética de Carl Sandburg – FLÂNEUR (flaneur.pt)

Carl Sandburg
Tradução de Alexandre O’Neill

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Os livros do Arnaldo

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Os livros da Cátia

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Apresentação do livro “Cartas Reencontradas de Fernando Pessoa a Mário de Sá-Carneiro” de Pedro Eiras

Apresentação do livro "Cartas Reencontradas de Fernando Pessoa a Mário de Sá-Carneiro" de Pedro Eiras
Apresentação do livro “Cartas Reencontradas de Fernando Pessoa a Mário de Sá-Carneiro” de Pedro Eiras

 

Apresentação do livro "Cartas Reencontradas de Fernando Pessoa a Mário de Sá-Carneiro" de Pedro Eiras
Apresentação do livro “Cartas Reencontradas de Fernando Pessoa a Mário de Sá-Carneiro” de Pedro Eiras

 

Apresentação do livro "Cartas Reencontradas de Fernando Pessoa a Mário de Sá-Carneiro" de Pedro Eiras
Apresentação do livro “Cartas Reencontradas de Fernando Pessoa a Mário de Sá-Carneiro” de Pedro Eiras

 

Apresentação do livro "Cartas Reencontradas de Fernando Pessoa a Mário de Sá-Carneiro" de Pedro Eiras
Apresentação do livro “Cartas Reencontradas de Fernando Pessoa a Mário de Sá-Carneiro” de Pedro Eiras

 

Apresentação do livro "Cartas Reencontradas de Fernando Pessoa a Mário de Sá-Carneiro" de Pedro Eiras
Apresentação do livro “Cartas Reencontradas de Fernando Pessoa a Mário de Sá-Carneiro” de Pedro Eiras

 

Apresentação do livro "Cartas Reencontradas de Fernando Pessoa a Mário de Sá-Carneiro" de Pedro Eiras
Apresentação do livro “Cartas Reencontradas de Fernando Pessoa a Mário de Sá-Carneiro” de Pedro Eiras
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Apresentação do livro “Fotografia e Beleza” de Renato Roque

Apresentação do livro "Beleza e Fotografia" de Renato Roque
Apresentação do livro “Fotografia e Beleza” de Renato Roque Fotografia: Jorge Velhote
Apresentação do livro "Beleza e Fotografia" de Renato Roque
Apresentação do livro “Fotografia e Beleza” de Renato Roque Fotografia: Jorge Velhote
Apresentação do livro "Beleza e Fotografia" de Renato Roque
Apresentação do livro “Fotografia e Beleza” de Renato Roque Fotografia: Jorge Velhote
Apresentação do livro "Beleza e Fotografia" de Renato Roque
Apresentação do livro “Fotografia e Beleza” de Renato Roque Fotografia: Jorge Velhote
Apresentação do livro "Beleza e Fotografia" de Renato Roque
Apresentação do livro “Fotografia e Beleza” de Renato Roque Fotografia: Jorge Velhote
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Billy Collins

Poeta americano, Billy Collins nasceu em Manhattan em 1941 e cresceu em Queens. Professor, consultor e mentor de várias revistas, promotor de workshops de poesia, foi laureado, entre 2001 e 2003, como Joseph Brodsky ou Stanley Kunitz; escreveria aliás, em 2002, um magnífico poema, incluído nesta antologia, Os Nomes, homenagem às vítimas dos ataques do 11 de Setembro.

 

PoesiaAmor Universal

Chamam-lhe um campo onde os animais
que foram esquecidos pela Arca
vêm pastar sob as nuvens da noite.

Ou uma cisterna, onde a chuva que caiu
antes da história escorre ao longo de uma placa de cimento.

Qualquer que seja a forma de o ver
este não é um lugar para montar
o cavalete de três pernas do realismo

ou fazer o leitor subir
as muitas cercas de um enredo.

Deixo o romancista corpulento
com a sua máquina de escrever barulhenta
descrever a cidade onde nasceu Francine,

como Albert leu o jornal no comboio,
como as cortinas sopravam no quarto.

Deixa a dramaturga com o seu casaco rasgado
e um cão enroscado no tapete
levar as personagens

dos bastidores para o palco
para enfrentarem a escuridão de muitos olhos da sala.

poesia não é lugar para isso.
Já temos muito para fazer
ao protestar contra o preço do tabaco,

passar a concha da sopa a pingar,
e cantar canções a um pássaro numa gaiola.

Estamos ocupados a não fazer nada –
e tudo o que precisamos para isso é de uma tarde,
um barco a remos sob um céu azul,

e talvez um homem a pescar de uma ponte de pedra,
ou, melhor ainda, ninguém nessa mesma ponte.

Amor Universal, Billy Collins, Averno
trad. Ricardo Marques, Lisboa: Averno, 2014

Hoje

Se alguma vez houve um dia de primavera tão perfeito,
tão animado por uma brisa morna intermitente

que te fez querer abrir
todas as janelas de casa

e destrancar a porta da gaiola do canário,
na verdade, arrancar a pequena porta do seu batente,

um dia em que os frescos caminhos de tijoleira
e o jardim repleto de túlipas

pareciam tão incrustados na luz solar
que até te apeteceu dar com

um martelo no pisa-papéis de vidro
que está na mesa ao fundo da sala de estar,

libertando os habitantes
da sua casinha coberta de neve

para que assim pudessem sair,
de mãos dadas e franzindo os olhos

ao ver esta abóboda maior de azul e branco,
então, hoje é mesmo esse tipo de dia.

Amor Universal, Billy Collins, Averno

trad. Ricardo Marques, Lisboa: Averno, 2014

 

Rebanho

“Calcula-se que para cada exemplar da Bíblia
de Gutenberg… foram necessárias as peles de 300 ovelhas”
– de um artigo sobre imprensa

 

Parece que as estou a ver apertadas no curral
por trás do edifício de pedra
onde a prensa funciona,

todas elas se ajeitando
para encontrar um pouco de espaço
e tão parecidas umas com as outras

que seria quase impossível
contá-las,
e não há forma de dizer

qual delas irá levar a notícia
de que o Senhor é um pastor,
uma das poucas coisas que elas já sabem.

Billy Collins, Amor Universal,

trad. Ricardo Marques, Lisboa: Averno, 2014

 

Adágio
 
À noite, quando já é tarde e os ramos
batem contra as janelas,
podes pensar que o amor é apenas uma questão
 
de passar do cavalo próprio
para o burro de outra pessoa,
mas é um pouco mais complicado do que isso.
 
É mais como trocar os dois pássaros
que podem estar escondidos naquele arbusto
pelo que não tens na mão.
 
Um homem sábio disse uma vez que o amor
era como forçar um cavalo a beber
mas depois toda a gente deixou de pensar nele como sábio.
 
Sejamos claros sobre isto.
O amor não é tão simples como acordar
virado do avesso e envergando as roupas do imperador.
 
Não, é mais parecido à maneira como a caneta
se sente depois de ter derrotado a espada.
É um pouco como o tostão poupado ou a prevenção em vez do remédio
 
Tu olhas para mim através do halo da última vela
e dizes que o amor é um mal que nunca
traz a bonança, uma tempestade que não sopra nada de bom,
 
mas eu estou aqui para te lembrar,
enquanto as nossas sombras tremem nas paredes,
que o amor é o pássaro madrugador que mais vale chegar tarde do que nunca.
 
Amor Universal, de Billy Collins
trad. Ricardo Marques, Lisboa: Averno, 2014
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Kapuscinski, a voz do “terceiro mundo”

“Quando os filhos dos nossos filhos quiserem informar-se sobre as crueldades da segunda metade do século XX, eles terão de ler Ryszard Kapuscinski.” Wall Street Journal

Ryszard Kapuscinski nasceu em 1932 na cidade polaca de Pinsk, hoje situada na Bielorrússia e era licenciado em História. Iniciou a sua actividade de jornalista em 1955, escrevendo reportagens sobre a reconstrução da Polónia. Ainda nos anos 50, foi pela primeira vez enviado como correspondente para a Ásia (Índia, Paquistão, Afeganistão) e para o Médio Oriente. Mais tarde foi correspondente em África e na América Latina, estando presente em países como Etiópia, Gana, Ruanda e Uganda, cujos movimentos nacionalistas foram retratados através da sua visão crítica e simultaneamente imparcial. Durante a sua carreira presenciou 27 revoluções, viveu 12 frentes de guerra e foi 4 vezes condenado a ser fuzilado.

Viajante, conhecedor do mundo e conhecedor do Homem, Kapuscinski é um exemplo de total entrega às causas do mundo. No seu trabalho, o lado humano e o lado profissional fundem-se de forma harmoniosa, culminando num jornalismo interveniente, no qual existe uma relação de empatia entre o repórter e o reportado. A empatia é uma habilidade de intuir como os outros se sentem e como vivem, por isso, para Kapuscinski, a empatia é uma capacidade fundamental para um jornalista “Creio que para fazer bom jornalismo devemos ser, antes de mais, homens bons ou mulheres boas: seres humanos bons (…) através da partilha podemos compreender o carácter do próprio interlocutor e partilhar, de forma natural e sincera, o destino e os problemas dos outros”.

A obra de Kapuscinski é um combate pela dignidade humana e contra a indiferença. Em 1999 foi considerado o melhor jornalista polaco do século XX e em 2003 foi distinguido com o Prémio Príncipe das Astúrias de Comunicação e Humanidades.

Livros (todos eles disponíveis imediatamente ou por encomenda na livraria Flâneur):

Andanças com Heródoto:

Em “Andanças com Heródoto”, Kapuscinski relembra alguns acontecimentos políticos e históricos que testemunhou, aproximando-os dos acontecimentos que Heródoto descreve. Embora possa parecer que o nosso mundo em quase tudo se distanciou do mundo de Heródoto, continua a ser verdade que compreender e aceitar o curso da história dos povos continua a ser tão difícil hoje como no tempo do autor grego. Para aqueles que, ainda assim, desejam tentar, este último livro de Kapuscinski é um magnífico guia, tanto mais que, ao invés de dar respostas, o seu autor prefere fazer perguntas.

 

Mais Um Dia de Vida:

Mais Um Dia de Vida – Angola 1975 é o extraordinário relato da descolonização angolana. Depois de 400 anos de domínio colonial, assiste-se ao violento surgimento de um país novo, imerso numa sangrenta guerra de guerrilha que visa decidir quem governará a nação libertada.

 

O Outro:

Neste livro reúnem-se seis pequenas conferências sobre o Outro, onde Kapuscinski procura compreender o que é ser europeu ou não-europeu, colono ou colonizado, branco ou negro. Numa viagem pela filosofia, pela história e pela antropologia, o autor evidencia uma visão do mundo idealista e pragmática, defendendo que numa época em que a humanidade se transforma rapidamente numa sociedade global, não é mais possível ignorar que, para o Outro, nós também somos Outros.

 

Ébano:

“Vivi alguns anos em África. A primeira vez que lá fui foi em 1957. Nos quarenta anos seguintes aproveitei todas as oportunidades para lá voltar. Viajei muito. Evitei rotas oficiais, palácios, personalidades ilustres e a grande política. Preferi viajar em camiões que encontrei por acaso, acompanhar nómadas pelo deserto, ou ser hóspede de uma família de agricultores da savana tropical. A sua vida é um trabalho árduo, uma luta constante, que eles aceitam com uma resignação e um ânimo extraordinários.
Este não é assim um livro sobre a África, mas sim sobre algumas pessoas de lá, sobre os encontros que tive com elas, o tempo que passámos juntos. É um continente demasiado grande para poder ser descrito. É um verdadeiro oceano, um planeta independente, um cosmos variado e rico. É apenas por uma questão de simplicidade e de comodidade que falamos de África. De facto, essa África não existe sequer, a não ser como conceito geográfico.”

 

O Imperador:

Haile Selassie, Rei dos Reis, Eleito de Deus, Soberano Todo-Poderoso, Imperador da Etiópia, reinou de 1930 a 1974, quando foi deposto pelo exército. Enquanto o combate ainda se travava, Ryszard Kapuscinski viajou para a Etiópia para entrevistar aqueles que mais de perto serviram o Imperador e saber como governava Selassie e como desabou o seu poder. Esta “história sensível e pujante” como a definiu The New York Review of Books, é a interpretação de Kapuscinski destes depoimentos – humorísticos, medonhos, tristes, grotescos – sobre um homem que viveu numa opulência quase inimaginável enquanto o seu povo vacilava entre a fome e a inanição.

 

O Xá dos Xás:

Nos anos 1950, com o repentino aumento do preço do petróleo, o Irão embarcou em um extraordinário processo de modernização. Foram importados armamentos, carros, aviões, tudo o que para o xá era sinónimo de desenvolvimento. Em 1979, no entanto, o seu projecto de “Grande Civilização” ruiu: sob o impacto de manifestações populares e a pressão dos religiosos xiitas, o reinado despótico de Mohammed Reza Pahlevi chegou ao fim.
Para narrar o processo de ascensão e queda do último xá do Irão, Kapuscinski lança mão de uma técnica mista, em que entram narrativa histórica, crónica jornalística e escrita de ficção. O autor busca no homem comum o significado profundo da cultura, da religiosidade e da revolução iraniana.
Nesta brilhante cobertura, o jornalista-escritor põe em prática a sua convicção de que “todos os livros sobre as revoluções […] deveriam começar com um capítulo com tons psicológicos, em que se descrevesse o momento em que um homem sofrido e apavorado repentinamente derrota o terror; o instante em que ele deixa de sentir medo”.

 

A Guerra do Futebol:

Neste livro Kapuscinski narra as suas aventuras por África, pelo Médio Oriente e pela América Latina entre 1958 e 1980, onde presenciou crises políticas, guerras, revoluções. Ao mesmo tempo narra também as vidas de pessoas comuns que conheceu em todos os países pelos quais passou.

 

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João Luís Barreto Guimarães

Nasceu no Porto, a 3 de Junho de 1967. Divide o seu tempo entre Leça da Palmeira e Venade.  Publicou o primeiro livro de poemas Há Violinos na Tribo, em 1989, a que se seguiram Rua Trinta e Um de Fevereiro (1991), Este Lado para Cima (1994), Lugares Comuns (2000), 3 (poesia 1987-1994), em 2001, Rés-do-Chão (2003), Luz Última (2006) e A Parte pelo Todo (2009). Mediterrâneo (2016) é o seu terceiro livro de poemas na Quetzal Editores, após a publicação de Poesia Reunida (2011) e de Você Está Aqui (2013).

Plano Nacional de Leitura Livro recomendado para a Formação de Adultos como sugestão de leitura. Depois de Poesia Reunida, publicado em novembro de 2011, a Quetzal apresenta Você está aqui, o oitavo livro de poemas originais de João Luís Barreto Guimarães. Dividido em duas partes - Partidas e Chegadas, sendo a primeira um conjunto de poemas fruto das impressões de uma série de viagens; e a segunda, o regresso à exploração/ observação do quotidiano e dos lugares familiares -, Você está aqui é também o balanço poético e pessoal do homem e do poeta, aos 40 anos, a procura e reafirmação do seu lugar, e do da sua poesia, no mundo. Críticas de imprensa «Em JLBG, o humor é um sentido extra, um assumir do desconcerto do mundo, uma fuga em frente.» Pedro Eiras, Colóquio/Letras «Uma sensibilidade quase epidérmica das ocorrências da vida.» Fernando Guimarães, Jornal de Letras «O nome de JLBG é absolutamente central no quadro da evolução da linguagem poética portuguesa.» António Carlos Cortez, Jornal de Letras «... a verdade é que ele só sabe escrever ‘de dentro da vida’ e faz sempre da vida (e da escrita) uma celebração.» José Mário Silva, Expresso «A primeira coisa que me parece de assinalar é o espírito de jogo e de ironia (...) Depois, a densa memória cultural que parece habitar esta poesia.» Luís Quintais, Relâmpago «No fundo, João Luís Barreto Guimarães demarca um território onde afirma a sua voz, o seu grupo (nas dedicatórias dos poemas vão-se encontrando vários poetas), a sua estética. O primeiro passo após a reunião da poesia é um passo, seguro, na direção da consolidação do seu caminho pessoal. Daí que você está aqui é, para além de um livro de poesia, um documento de uma geração, sem revolução, mas com marca distintiva, orgulhosa, mas quiçá assombrada com o lugar onde caiu: "(…) É terrível quando cai a cor do vinho tinto / no branco puro / da toalha.» Luís Filipe Cristovão, Revista Literária Sítio «João Luís Barreto Guimarães é um poeta viajado, erudito, não se coibindo de o mostrar naquilo que escreve; porém a fundamental ironia que anima toda a sua poesia passa precisamente por miscigenar essa erudição com os mais banais pormenores da nossa existência, aqui e ali salpicada também com a sua experiência como médico, cirurgião plástico […] Você está aqui é o reencontro com a luz, a luz da viagem, da partida e da chegada e, sempre, a contínua observação do que nos rodeia, imersa numa finíssima ironia, o nosso eterno retorno ao “carrossel dos dias” enquanto aguardamos que seja a nossa mala.» Alexandra Malheiro, Revista Literária Sítio «Ao longo dos anos, João Luís Barreto Guimarães tem vindo a afirmar-se como um dos mais consistentes poetas portugueses e o seu imaginário é uma referência incontornável para quem busca referências da nossa história e cultura. Ao mesmo tempo, há, nas suas palavras uma utilização discreta mas acutilante da ironia, o que torna a sua poesia ainda mais activa. […] Viagens por lugares, cais de olhares que ecoam a memória dos povos, este livro é um encontro com o encantamento das palavras.» Fernando Sobral, Jornal EconómicoMediterrâneoPlano Nacional de Leitura Livro recomendado para a Formação de Adultos como sugestão de leitura. Excerto: vê o pouco que ficou das longas tardes de agosto (pálida sombra de um relógio na pele do último verão) não te percas a chorar para antecipar o inverno é o sítio das nuvens que escolhe os lugares onde cai sol. essa luz não escurece o lado cansado das mãos é estranho revisitar uma praia sem pegadas sentir proteção por saber acompanhar o refrão que cruza as ondas da rádio. as vagas trazem à praia o outono das algas do mar (vão ensaiando maduras a rebentação mais perfeita) cegas na voz do marulho cegas no próprio refrão Críticas de imprensa «[…] o nome de João Luís Barreto Guimarães é absolutamente central no quadro da evolução da linguagem poética portuguesa, principalmente se pensarmos essa evolução em termos de rutura ou continuidade quanto ao que os últimos 30 anos nos ofereceram.» António Carlos Cortez, JL « Exemplar na arte da observação, o poeta recolhe acasos e gestos, pequenas epifanias, histórias breves, o trabalho da melancolia. Uma melancolia que ganha terreno na terceira fase, a dos últimos livros, muito atentos aos rituais quotidianos, aos estragos que a rotina provoca nos corpos e nos espaços domésticos, ao confronto com a ideia da morte e da perda. Por muito que J.L.B.G., médico de profissão, afirme que a poesia é uma “doença” que não se deseja a ninguém, a verdade é que ele só sabe escrever “de dentro da vida” e faz sempre da vida (e da escrita) uma celebração.» José Mário Silva, Expresso, Atual

História de uma tarde

uma réstia de tarde ainda por resolver.

Não durará muito é certo (espera-a

o esquecimento) somente o necessário até

a noite baixar. Ainda falta esta luz

antes de fechar a praia

(um átimo para esquecer

recordar

voltar atrás). Já não sobra muito eu sei

(só instantes sem momentos) esse pouco

que divisa memória de

ilusão. Procuro o inefável na espessura da tarde –

se eu não guardar num poema esta hora atravessada

nem ela nem esta tarde alguma

vez existirão.

Mediterrâneo, João Luís Barreto Guimarães, Quetzal

Still Life

Os livros

abandonados no apartamento de Jan falavam

línguas distintas. Podíamos ir pela estante

(coleccionando fronteiras)

tentando adivinhar quem os teria legado

(quem sabe se em desagravo

pelo rumo da história)

suponho que: pelo desvelo que impele

à partilha. Cruzando o apartamento alugado

tantos anos saudei

nos livros esquecidos a experiência do mundo

(breves rasgões na lombada

testemunhando a viagem)

o olvido por companhia cedo demais

para morrer. Nessa idade em que uma mão (a

minha a

sua: leitor) podia da vida quieta

extrair vida ainda.

Você está aqui, João Luís Barreto Guimarães, Quetzal

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A Relógio D’Água em 2016

A ficção continua a ter em 2016 um lugar destacado na Relógio D’Água, mas haverá uma particular atenção às colecções de filosofia, ensaio e economia.
Na narrativa em língua portuguesa, há romances de Hélia Correia (Um Bailarino na Batalha), de Rui Nunes (A Crisálida), de Alexandre Andrade (O Leão de Belfort), de Ana Teresa Pereira (Correntes Subterrâneas) e uma novela de Jaime Rocha (Escola de Náufragos).
Do outro lado do Atlântico, chegam Todos os Contos de Clarice Lispector (reunidos e apresentados pelo seu biógrafo Benjamin Moser) e o romance O Que os Cegos Estão Sonhando? de Noemi Jaffe.
Na ficção traduzida inicia-se a publicação de escritores chineses contemporâneos a partir da língua original, começando por Yu Hua.
De Elena Ferrante sairão A Praia da Noite e Fragmentos e de Knausgård novos volumes da sua autobiografia e dois dos ensaios que fazem parte do ciclo Outono, Inverno, Primavera, Verão. Trata-se de dois autores opostos no que se refere à exposição da sua vida privada. Apesar disso, Ferrante é publicada na Noruega pela editora que Knausgård fundou.
O romance de Marlon James, A Brief History of Seven Killings, que venceu o Booker de 2015, será lançado em finais de Maio. De Kate Atkinson sairá Um Deus em Ruínas, que recebeu o Costa Award em 2015. De Dave Eggers teremos Um Holograma para o Rei e O Círculo, que vão ter adaptações cinematográficas, de Tom Tykwer e de James Ponsoldt. Com versão cinematográfica igualmente prevista, neste caso de Ridley Scott, sairá O Cartel de Don Winslow.
Teremos ainda obras de Carson McCullers (Coração, Solitário Caçador e A Balada do Café Triste), de Nabokov (O Dom), de Iris Murdoch (O Sino), de Sylvia Plath (A Campânula de Vidro), de Philip K. Dick (O Homem do Castelo Alto e Do Androids Dream of Electric Sheep?), além dos últimos livros da série Ripley de Patricia Highsmith e Orange Is the New Black, de Piper Kerman.
De Rebecca West será publicado Estufa com Ciclâmenes, uma histórica reportagem dos julgamentos de Nuremberga.
Os clássicos, ou seja, as obras que sucessivas gerações de leitores vão fazendo suas, ocupam um lugar de destaque, com o lançamento da colecção 35 Clássicos para Leitores de Hoje, comemorativa da fundação da RA em 1982. Há ainda a tradução de Nina e Filipe Guerra de Evguéni Onéguin de Aleksandr Púchkin, de Os Miseráveis de Victor Hugo (tradução de Júlia Ferreira e José Cláudio), e de Norte e Sul de Elizabeth Gaskell (traduzido por Frederico Pedreira).
A RA publicará ainda obras fundamentais na área da filosofia de José Gil, Sloterdijk, Bertrand Russell e Byung-Chul Han (O Aroma do Tempo).
Destacamos ainda novos ensaios de António Barreto, George Steiner, Maria Filomena Molder, Steven Pinker, com o monumental Os Anjos Bons da Nossa Natureza, Umberto Eco e antologias de George Orwell e de Chesterton (esta última escolhida e prefaciada por Alberto Manguel).
Na Ciência teremos Pensar os Números de Daniel Tammet e Para Além das Palavras: O Que os Animais Pensam e Sentem de Carl Safina.
A colecção Temas de Economia prossegue com A Economia como Desporto de Combate de Ricardo Paes Mamede, O Euro, a Europa e Outros Textos (título provisório) de Ricardo Reis, A Casa da Dívida de Atif Amian e Amir Sufi e uma antologia de Keynes.
Nas obras de actualidade, temos A Nova Odisseia de Patrick Kingsley, sobre os refugiados na Europa, As Várias Faces do Anonymous de Gabriella Coleman, e ainda Gratidão, que reúne os últimos textos de Oliver Sacks.
Será também relançada a colecção Viagens, com autores como Octavio Paz, Durrell, Virginia Woolf, Stevenson, e continuará a bom ritmo a de Poesia, Universos Mágicos e Livros de Bolso.