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O Amante de Lady Chatterley

(…) Acredito num mistério superior que não permite que os corações se apaguem. Se está na Escócia e eu nos Midlands e não a posso abraçar e agarrar, resta-me no entanto algo de si. A minha alma palpita docemente consigo na pequena chama de Pentecostes e é como a paz que se sente depois de fazer amor. Há uma chama que nasce quando se faz amor. Até as flores nascem do amor entre o sol e a terra, E tudo isto é um problema delicado que exige paciência e uma longa espera.
E assim gosto da minha castidade neste momento, por que é como a paz que sobrevém ao amor. Gosto de levar uma vida casta, como as goteiras gostam da água da chuva. Gosto da castidade, que é o momento de paz no nosso amor e que é uma chama branca, muito branca. E quando a primavera chegar, quando passarmos a viver juntos, então poderemos, ao fazer amor, tornar a pequena chama brilhante, amarela e brilhante. Agora é impossível. Agora temos de ser castos, e é bom ser casto, é como um rio de água fria na alma. Gosto da castidade que corre agora entre nós. É água fresca da chuva.
Como é possível desejar permanentemente as cansativas aventuras? Ser apenas Don Juan é terrível, não chega para conseguir extrair paz do amor, quando a pseudochama brilha, incapaz de ser casto de vez em quando, como quem se senta na margem de um rio. (…)

D. H. Lawrence, in O Amante de Lady Chatterley
Edição Relógio D’Água

https://www.flaneur.pt/produto/o-amante-de-lady-chatterley/

Pintura: Woman Drying Her Hair. Joseph DeCamp