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Francisco e o Pequenino

Gennady Gogoliuk

Ela é bela. Não, é mais que bela. É a própria vida no seu brilho mais terno de aurora. Não a conheceis. Nunca vistes um único dos seus retratos, mas a evidência está lá, a evidência da sua beleza, a luz sobre os seus ombros, quando se inclina sobre o berço, quando vai escutar a respiração do pequeno Francisco de Assis, que ainda não se chama Francisco, que não passa de um pouco de carne rosada e enrugada, de um homenzinho mais desarmado do que um gatinho ou que um arbusto. Ela é bela, graças a este amor de que se despoja, a fim de com ele revestir a nudez do menino. É bela, pela solicitude com que acorre, uma e outra vez, ao quarto da criança. Todas as mães possuem esta beleza. Todas têm esta justeza, esta verdade, esta santidade. Todas as mães têm esta graça que causa ciúme ao próprio Deus – o solitário, sob a sua árvore de eternidade. Sim, não a podeis imaginar, a não ser revestidos desta roupagem do seu amor. A beleza das mães supera a glória da natureza. Uma beleza inimaginável, a única que poderíeis imaginar para esta mulher atenta a todos os movimentos do menino.

Christian Bobin, in Francisco e o Pequenino

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