por Mahmoud Darwich
Somos dois convertidos num só.
Não temos nome, estranha mulher,
quando o estranho se descobre na estranha.
O que resta do jardim atrás de nós é o poder da sombra.
Mostra o que te aprouver da terra da tua noite, e esconde o que te aprouver.
Vimos apressadamente do ocaso simultâneo de dois lugares.
Juntos procurámos as nossas moradas.
Segue a tua sombra, a leste do Cântico dos Cânticos,
reunindo cortiçóis em bando.
Descobrirás uma estrela que reside na própria morte.
Escala uma montanha deserta,
descobrirás o movimento circular que une o meu ontem ao meu amanhã.
Descobrirás onde estávamos e onde, juntos, estaremos.
Somos dois convertidos num só, estranho homem.
Vai para o mar a oeste do teu livro, e mergulha com a leveza
de quem é levado por duas ondas à nascença,
descobrirás um aglomerado de algas e um verde céu de água.
Mergulha com a leveza de quem é nada em nada.
E descobrir-nos-ás juntos.
Imagem: Egon Schiele