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Dulce Maria Loynaz

Falou a nuvem e disse:

– Sou e não sou. Estou e já deixei de estar. Nada é menos que eu, que não sou nada.

Falou a estrela e disse:

– Tão-pouco eu sou eu. Levo uma morte de milhões de anos quando os sábios me dão nomes belos.

Falou o sonho e disse:

– Eu estou para lá da morte, pois não nasci ainda. E embora por nascer possa ficar, sou já mais forte que a vida.

Então o homem que escutava sentou-se em lágrimas desoladas. Tudo quanto havia julgado seu não existia; o seu reino era um reino de fantasmas; o seu coração, um coração sem eco.

E, não obstante, ele pudera viver e morrer dia após dia, por coisas que não morriam nem viviam.

 

Imagem: Paulo Nozolino

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Dulce Maria Loynaz

Eu sou a terra de aluvião que a água vai arrastando. Não tenho tempo para formar uma árvore, para adoçar um fruto, para lograr uma flor.

Não aqueci duas vezes a mesma Primavera, embora todas as Primaveras me reconheçam ao passar.

As chuvas  deslocam-me sem me desintegrar, o vento empurra-me sem romper o meu contorno, a minha identidade; continuo a ser eu mesma, mas perdendo-me constantemente do meu centro. Ou do que julgava ser o meu centro… Ou do que nunca será o meu centro…

 

Imagem: Alfred Stieglitz