
Falou a nuvem e disse:
– Sou e não sou. Estou e já deixei de estar. Nada é menos que eu, que não sou nada.
Falou a estrela e disse:
– Tão-pouco eu sou eu. Levo uma morte de milhões de anos quando os sábios me dão nomes belos.
Falou o sonho e disse:
– Eu estou para lá da morte, pois não nasci ainda. E embora por nascer possa ficar, sou já mais forte que a vida.
Então o homem que escutava sentou-se em lágrimas desoladas. Tudo quanto havia julgado seu não existia; o seu reino era um reino de fantasmas; o seu coração, um coração sem eco.
E, não obstante, ele pudera viver e morrer dia após dia, por coisas que não morriam nem viviam.
Imagem: Paulo Nozolino