Publicado em

Dulce Maria Loynaz

Falou a nuvem e disse:

– Sou e não sou. Estou e já deixei de estar. Nada é menos que eu, que não sou nada.

Falou a estrela e disse:

– Tão-pouco eu sou eu. Levo uma morte de milhões de anos quando os sábios me dão nomes belos.

Falou o sonho e disse:

– Eu estou para lá da morte, pois não nasci ainda. E embora por nascer possa ficar, sou já mais forte que a vida.

Então o homem que escutava sentou-se em lágrimas desoladas. Tudo quanto havia julgado seu não existia; o seu reino era um reino de fantasmas; o seu coração, um coração sem eco.

E, não obstante, ele pudera viver e morrer dia após dia, por coisas que não morriam nem viviam.

 

Imagem: Paulo Nozolino