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Rosa Alice Branco

É quase estranho estar a reler Homens imprudentemente poéticos e continuar a descobrir que cada página é uma obra-prima. E pergunto-me com que ingredientes imperfeitos Valter Hugo Mãe escreve um livro perfeito, página a página.
Distorce, retorce o cânone, seja este qual seja, dá-lhe tantas voltas tresloucadas, vira-o do avesso, e o resultado de todas estas reviravoltas imprudentes é a lição da candura como ímpeto transformador, como a única força de linguagem criadora de cosmos.

O escritor elege, para proteger na escrita, as criaturas desabrigadas e apaziguadoras, as mulheres – como a cega menina Matsu e a criada Sra. Kame – perante a crueldade dos que pensam comandar o destino. Mas neste livro deparamo-nos com o modo como os ódios criam fantasmas carnais conducentes à destruição dos que se deixam tomar pela força alucinante e descontrolada dos mesmos.

Todos os signos, rituais, modos fenoménicos que acontecem no livro só podem remeter para o Japão. Em O Império dos signos é notório o fascínio de Roland Barthes por esse Japão que ele diz ter inventado, e inventou, na medida em que perspectivou, em toda a fruição, a materialidade e sensualidade da gestualidade japonesa.

Também Valter Hugo Mãe se dá aos lugares onde pernoita para escrever, respeita-os e por isso os transfigura, rasgando a escrita em plenitude, desde o léxico à sintaxe, compreendendo que a gestualidade é um ensinamento de linguagem e a linguagem ensina o modo de estar no mundo.

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Mundial 2018 – A selecção da Flâneur

Faz dois anos, a Flâneur apresentava a sua primeira convocatória para o Campeonato Europeu, que logo venceu! Agora queremos o Mundial e para atingir tal desiderato (abusarei da linguagem futebolística), reunimos aqueles que de momento nos dão mais garantias de vitória, no plano físico e táctico. Mescla de juventude e experiência, notem que baixamos em 50 anos a média de idade da selecção (123 a anterior), ei-los, os nossos campeões.
 
1 – Heterónimos de Fernando Pessoa, porque baliza preenchida é baliza bem defendida.
 
2 e 3 – Na defesa, entregues às alas, temos Luiz Pacheco e Ângelo de Lima.
 
4 e 5 – No centro da defesa temos Diogo Vaz Pinto, bom jogo de cabeça e forte na marcação individual é também exímio nos lançamentos com e em profundidade. A bola não lhe sai morta dos pés. Ao seu lado está Miguel Torga, o mais internacional futebolista português, jogador duro mas leal, sabe bem os terrenos que pisa.
 
No meio campo apresentamos uma dinâmica linha de 4, basculante, que se desdobra em losango no momento ofensivo (pressing alto) e triângulo no momento defensivo.
 
6 – À direita está Elisabete Marques, jovem talento da academia, rápida, veloz, lesta, nada lenta, antes pelo contrário. Futebolista de sangue frio, é quem assume todas as bolas paradas. De fino recorte técnico, é a rainha das assistências.
 
7 – Andreia C. Faria é quem joga pela esquerda, um pouco acima do lugar onde melhor joga na selecção, no entanto, jogadora polivalente, pode também fazer o lado direito e até os flancos. Repentista e perfeita no drible em progressão, é a chamada falsa lenta. Inteligente a ocupar o espaço vazio e no jogo entre linhas, tem perfume a nossa craque.
 
8 – No miolo, a sagacidade e a visão de jogo de Manuel António Pina. É o cérebro da equipa, quem pauta todo o ritmo de jogo.
 
9 – Gonçalo M. Tavares, o menino que veio do bairro para os relvados. Forte nas segundas bolas e a rodar sobre si mesmo, é o génio dos passes de ruptura.
 
10 e 11 – O ataque é formado por Daniel Jonas, 1 metro e 97 de golo, nada tosco e com caracóis. Ao seu lado, forte a jogar de costas para a baliza e a provocar o desgaste dos defesas contrários, temos Rosa Alice Branco, também de caracóis. A fazer lembrar as nossas lendas (Cadete, Paulo Futre, Chalana, entre outros), esta possante dupla avançada sabe que ao futebolista não lhe basta ser, tem de parecer, e por isso , não descura nunca o visual na hora de festejar.
 
O Mister, o nosso “special one”, é Pedro Eiras. Com um trajecto vitorioso em todos os escalões de formação e um profundo conhecimento das principais academias do mundo, rapidamente se afirmou como líder da nossa selecção, revolucionando toda a metodologia do treino e do jogo. Rigoroso e disciplinador, gosta de jogar bonito. Privilegia a nota artística mas não vai em cantatas, a não ser as BWV, claro.