Será a casa de Zambra o espaço físico onde habitamos ou a casa que somos?
A acção de Maneiras de Voltar para Casa decorre em duas épocas: os anos 80, durante o regime de Pinochet, época de medo, mas em que existe sempre o reverso – a coragem -, e o presente. Mas em épocas distintas, separadas por 20 anos, a casa é a mesma: o pai sentado no cadeirão a receber o presente com calma e resignação, a mãe a fumar às escondidas, mas é sobretudo o silêncio que é o mesmo. O silêncio de quem parece não tomar uma posição, o silêncio que pode ser resultado do consentimento, do medo ou da indiferença.
É nesta casa silenciosa, nos subúrbios de Santiago do Chile, que um menino de nove anos cria histórias para explicar as cenas esporádicas de violência e os desaparecimentos dos vizinhos. Mais tarde, no tempo presente da acção, já adulto, o protagonista desta estória procura enfrentar tudo o que não podia perceber enquanto criança e voltar ao passado conturbado do seu país. Enquanto escreve um romance que confronta a inocência, a culpa e a cumplicidade, volta para casa e para as memórias da sua infância. Memórias individuais e memórias colectivas do Chile dos anos 80. Uma época em que as crianças aprendiam a falar e a ler enquanto os adultos lutavam ou fugiam; em que faziam bonecos enquanto os adultos matavam ou morriam; uma época em que a vida parecia ser tão vulnerável quanto um avião de papel lançado ao vento.
Voltar a casa é voltar às memórias, às memórias que construímos de nós, dos outros e do país. Partilhar as memórias é permitir que os outros entrem em nossa casa e conheçam quem somos. Ainda que o registo autobiográfico nunca seja admitido, ao ler este livro senti-me a entrar em casa de Zambra.