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Feira do Livro Infantil e Juvenil de Bolonha 2015

A Feira do Livro Infantil e Juvenil de Bolonha, criada em 1964, é um espaço de compra e venda de direitos de livros, mas também inclui exposições de ilustração e distingue os melhores livros editados em todo o mundo em quatro categorias: “Ficção”, “Não Ficção”, “Novos horizontes” e “Primeira obra”, às quais se junta um prémio para livros e aplicações em digital.

Os livros Lá fora (Planeta Tangerina), das biólogas Maria Dias e Inês Rosário, e Hoje sinto-me… (Orfeu Negro), de Madalena Moniz, foram distinguidos no âmbito da Feira do Livro Infantil e Juvenil de Bolonha, que decorrerá em Março em Itália. Lá fora foi eleito o melhor livro na categoria “Primeira obra” (“Opera Prima”) e Hoje sinto-me…, escrito e ilustrado por Madalena Moniz, teve uma menção honrosa na mesma categoria. O vencedor na categoria “Ficção” foi Flashlight, com texto e ilustrações de Lisy Boyd e edição da Chronicle Books. O livro premiado para “Não Ficção” foi Avant Après, com texto de Anne-Margot Ramstein e ilustração de Matthias Aregui da Albin Michel Jeunesse. Na categoria “Novos Horizontes” o livro distinguido foi Abecedario, com texto de Ruth Kaufman e Raquel Franco e ilustração de Diego Bianki da Pequeño Editor.

Lá Fora – um guia para descobrir a natureza, primeira obra das biólogas Maria Dias e Inês Rosário, é um livro informativo que convida pais e filhos, crianças e adultos a saírem de casa e a entrarem na natureza que os rodeia, seja na cidade, seja no campo.

Profusamente ilustrado por Bernardo Carvalho, o livro reparte-se por capítulos dedicados às aves, aos mamíferos, aos répteis, às flores, ao céu ou ao mar, à praia e às poças de maré, mas também aos bichinhos que vivem nos jardins e nos quintais.

“A ideia é partilhar o gosto em aprender através da observação, de actividades simples e do raciocínio. Isso pode ser feito tanto vivendo dentro de um parque natural como vivendo num prédio de uma grande cidade. No extremo, até pode ser feito dentro de casa, observando as flores dos vasos, ou as abelhas que as visitam”, explicou Maria Dias, à agência Lusa, quando o livro saiu em 2014.

Hoje sinto-me… é um livro-alfabeto sobre sentimentos, ordenados de A a Z, como audaz, baralhado, curioso, distante, espacial e forte.

Cada palavra é acompanhada de ilustrações, a tinta-da-china e aguarela, que complementam a interpretação de cada uma das escolhas dos sentimentos.

Hoje sinto-me… é o primeiro livro assinado por Madalena Moniz, depois de em 2010 ter feito a ilustração para Sílvio, domador de caracóis, de Francisco Duarte Mangas, que lhe valeu um destaque no Prémio Nacional de Ilustração

Nos últimos anos, Feira do Livro Infantil e Juvenil de Bolonha tem premiado e dado reconhecimento à literatura e ilustração portuguesas. Em 2014, o livro Mar, de André Letria e Ricardo Henriques, pela editora Pato Lógico, recebeu uma menção honrosa na categoria “Não Ficção” e esteve em destaque na feira. Nesse ano, a ilustrador Catarina Sobral conquistou o Prémio Internacional de Ilustração da feira com o livro O meu avô, pela Orfeu Negro. Em 2013, a feira atribuiu uma menção ao livro A ilha, de João Gomes de Abreu e Yara Kono (Planeta Tangerina), na categoria “Primeira obra”. No âmbito da feira, a editora Planeta Tangerina foi considerada a melhor editora europeia de 2013, numa votação feita por outros editores presentes no certame.

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Ninguém encontrou nem jamais há-de encontrar (Voltaire)

Editada em 2014 pela Sistema Solar, a Autobiografia de Thomas Bernhard reúne os cinco volumes autobiográficos publicados ao longo de sete anos. São eles A Causa (1975), A Cave (1976), A Respiração (1978), O Frio (1981) e Uma Criança (1982). Por meio deles o autor dá a conhecer a sua infância e a sua juventude, período decisivo para a construção da personalidade, carácter e carreira, numa obra essencialmente literária, em que procura fornecer uma imagem que de certo modo para si próprio criou, adaptando a esse objectivo os acontecimentos narrados. Para Bernhard “o que se descreve torna evidente algo que corresponde, é certo, ao desejo de verdade daquele que descreve, mas não a verdade, pois a verdade não é transmissível.” Conquanto a ideia de revelar uma existência seja ela própria uma falácia, “só o descarado é capaz de agarrar e desempacotar frases e simplesmente atirá-las ao papel, só o mais descarado é autêntico.” E em boa verdade o é, com uma escrita que reflecte sempre solidão, rancor, humilhação, isolamento e doença. Mas também nela existe música. Bernhard, graças ao seu avô, teve lições de violino, música e canto, formação musical que veio, mais tarde, a notar-se na sua obra literária, particularmente na construção rítmica da sua linguagem, na repetição de palavras e frases. São cinco volumes, escritos sem qualquer pejo, que retratam vinte anos de destruição física e espiritual de um escritor que importa conhecer.

“As pessoas são como são e não se podem mudar, como os objectos que as pessoas fizeram e fazem e hão-de fazer. Na natureza não existem diferenças de valores. São sempre só pessoas com todas as suas fraquezas e com toda a sua imundície física e anímica em cada novo dia. É indiferente se alguém desespera com o seu martelo pneumático ou agarrado à sua máquina de escrever. Só as teorias é que estropiam o que afinal é tão claro, as filosofias e as ciências no seu todo, que se interpõe no caminho da clareza com os seus conhecimentos inúteis. Já quase tudo passou, o que agora ainda vem não surpreende porque todas as possibilidades foram ponderadas.”

No primeiro dos seus cinco livros, A Causa, é a vida no internato que constitui o objecto principal da sua narrativa, descrevendo o funcionamento do internato, o Johanneum, como sempre se chamou, antes e depois do fim da guerra, primeiro como uma instituição nacional-socialista e depois como um lar católico, dando a conhecer ao leitor todas as semelhanças existentes entre uma e outra.

O segundo volume, A Cave, começa no momento em que Thomas Bernhard com 16 anos decide “ir na direcção oposta”, e abandona o liceu. A cave era uma mercearia, situada no bairro mais miserável e mal-afamado de Salzburgo, onde irá mais tarde, após uma gripe mal curada, contrair uma doença pulmonar, que o irá afectar para o resto da vida.

A Respiração descreve a sua permanência num hospital de Salzburgo, onde a pleurisia de que sofre se agrava de tal maneira que é colocado na enfermaria dos moribundos. Consegue sobreviver contra todas as expectativas e é durante o internamento, que o seu avô materno, uma das chamadas “pessoas da sua vida”, vem aí a falecer inesperadamente. Mais tarde é descoberto uma sombra no pulmão, o princípio da tuberculose que a seguir o afecta, e que determina o seu envio para o sanatório.

O quarto volume O Frio, mostra-nos a experiência do escritor nesse sanatório, lugar de encontro da segunda das “pessoas da sua vida”. Tal como Hans Castorp em Montanha Mágica, livro de Thomas Mann, aí reflecte sobre as suas origens, infâncias, constituindo já o caminho que conduz ao último volume. “Sentado no cepo, divertia-me a conferir a conta que o meu avô tinha feito, a adicionar os números colocados uns por baixo dos outros, fazia-o como o aprendiz do comércio na loja, com a mesma precisão, com a mesma falta de consideração pelos compradores. Nós entramos na loja da vida e compramos, e temos nós de pagar a conta. Aí o vendedor não se engana.”

No quinto livro, Uma Criança, é a imagem do avô que ressalta, figura tutelar da sua existência, que o marcou indelevelmente. São os dias felizes, os da infância, em que viveu com o avô ou na sua proximidade.

Bernhard morreu aos 58 anos de idade, na sua casa em Gmunden na Alta Áustria. Polémico mesmo após a sua morte, o ressentimento que durante toda a sua vida dedicou à sua pátria manteve-o até no seu testamento, no qual proíbe a encenação das suas peças teatrais em território austríaco. O seu legado literário inclui dezanove romances, dezassete obras teatrais, entre outros livros breves ou autobiográficos. Conta-nos Thomas Bernhard que, não fosse a sua curiosidade sem vergonha e a sua cobardia perante a ideia de suicídio, e a sua vida teria sido bastante mais curta. “Durante toda a minha vida nunca houve nada que eu mais admirasse do que os suicidas. Eles excedem-me em tudo, tudo, pensei eu sempre, não valho nada e estou preso à vida, por mais horrível e mesquinha, mais asquerosa e infame, mais banal e ignóbil que seja.”

Thomas Bernhard é um escritor de génio e o seu descaramento é o martelo pneumático a que ninguém fica indiferente.

Uma frase ficou sempre na minha cabeça: “Toda a nossa vida, se a tomarmos a sério, não é senão uma sórdida agenda de acontecimentos, no fim completamente rasgado.”

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Enrique Vila-Matas, Vilhelm Hammershoi, Carl Theodor Dreyer

Descobri Hammershoi em “Dublinesca” de Enrique Vila-Matas. Personagem central no romance do escritor catalão, Samuel Riba, o último editor literário, diz: “Sente-se sempre enormemente hipnotizado por este artista dinamarquês. Gosta daqueles quadros onde os mesmos motivos reaparecem uma e outra vez, obsessivamente. Mas parece-lhe que, na arte, o que importa muitas vezes é precisamente isso, a obsessão desenfreada, a presença do maníaco por detrás da obra.” 

Nos quadros de Vilhelm Hammershoi, o pintor está sempre presente, com as suas imagens tenazes às voltas com a sua insistência pelos espaços vazios onde, aparentemente não acontece nada, mas atrás da calma extrema e da imobilidade, sente-se o espreitar de um elemento indefinível e ameaçador. A sua paleta de cores é limitada e dominada pelos tons cinzentos. “É o pintor do que se passa quando não se passa nada. Tudo isso converte os seus interiores em lugares de quietude hipnótica e de introspecção melancólica.”
Um encontro feliz com a pintura de Hammershoi. Mais ainda, quando a descoberta me trouxe ao cinema de Dreyer, de “Ordet” e “Gertrud”, que tanto amo. Percebi então que foram precisamente as suas pinturas de interiores e personagens obscuras e austeras quem influenciou Carl Theodor Dreyer, na sua ideia central de cenografias mínimas, quase despidas, mas sobretudo no que à utilização da luz diz respeito. No percurso de Dreyer, as referências à estética de Hammershoi cruzam-se com as suas próprias interpretações da enfatização dramática do real. O uso da luz nos cenários domésticos, o voyeurismo ao universo do quotidiano feminino e o isolamento no campo visual da personagem central são analogias facilmente reconhecíveis entre os dois dinamarqueses.

Deve ser este então o significado de “o mundo é pequeno”.

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Emigrantes

Emigrantes em busca de um futuro melhor, refugiados políticos, deslocados de guerra… Esta novela gráfica sem palavras de Shaun Tan é uma magistral homenagem a todos aqueles que empreenderam uma viagem, física e existencial, definitiva nas suas vidas. O protagonista de “Emigrantes” deixa o seu lar e a sua família, uma cidade mergulhada na crise, e é acolhido por um país onde enfrenta uma língua desconhecida, costumes diferentes e incertezas. A obra plasma também a nostalgia pelos entes queridos, as experiências de outros emigrantes, o duro processo de adaptação à nova realidade, a passagem do tempo e a hospitalidade da povoação. O autor privilegia o desenho sobre a palavra, deixando as imagens falarem por si mesmas. Trata-se de ilustrações sem cor, em tom de sépia, evocando fotografias antigas, e de um surpreendente realismo que se mescla com a fantasia e a metáfora visual.

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Fernando Echevarría vence prémio Casino da Póvoa

Fernando Echevarría venceu o prémio Casino da Póvoa pela obra Categorias e outras paisagens, atribuído no 16.º Correntes d’Escritas.

Nas palavras do júri, constituído por Afonso Cruz, Almeida Faria, Ana Paula Tavares, Maria Flor Pedroso e Valter Hugo Mãe, a «obra revela um caráter monumental, impressionante pelo seu fôlego e constante equilíbrio de espessura poética».

Fernando Echevarría nasceu em Santander no dia 26 de Fevereiro de 1929. Filho de pai português e mãe espanhola, veio com dois anos para Portugal, para Vila Nova de Gaia, onde fez os seus estudos de ensino secundário e cursou Humanidades. Aos dezassete anos voltou para Espanha, onde estudou Filosofia e Teologia, sem concluir qualquer curso. Optou pela carreira docente, primeiro no Porto e depois, já exilado em Paris, para onde parte em 1961. Pode dizer-se que a poesia de Echevarría se insere na corrente antirrealista dos anos 50 do século XX, marcada sobretudo pela sensibilidade metafísica e artística e pelo “imaginismo”.

Os restantes finalistas do prémio eram Fernando Guimarães, A. M. Pires Cabral, Nuno Júdice, José Tolentino Mendonça, Luís Quintais, Daniel Jonas, Golgona Anghel, Renato Filipe Cardoso, João Rios, Matilde Campilho e Fabiano Calixto.

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Romain Gary e os elefantes

É o escritor e o homem que nos escreve. Estas são as palavras (retiradas da Nota do Autor) que abrem o livro “As Raízes do Céu”, de Romain Gary. Admirávamos a sua escrita, agora admiramos também a sua humanidade, a sua ética, a sua empatia por todos os seres, a sua voz na defesa do outro, possivelmente diferente no pensar e no viver, mas tão parecido no sentir. “Àqueles que se espantarem com a minha preocupação, que talvez julguem requintada, ou excessiva, pelas belezas da terra, num momento em que devemos defender a obra humana, ameaçada pelos seus mais antigos demónios, responderei que nos julgo suficientemente generosos para não nos importarmos de pensar nos elefantes, quaisquer que sejam as dificuldades da nossa luta e as cruéis exigências da marcha em frente. (…) Creio na liberdade individual, na tolerância e nos direitos do homem. Pode ser que se trate também de elefantes fora de moda e anacrónicos, sobreviventes embaraçosos de uma época geológica desaparecida: a do humanismo. Não o penso, porque acredito no progresso e porque o verdadeiro progresso traz consigo as condições indispensáveis para a sobrevivência daqueles valores. É muito possível que me engane e que a minha confiança não passe de um ardil do meu próprio instinto de conservação. Nesse caso, espero desaparecer com eles. Mas não sem os ter defendido até ao fim das fúrias totalitárias, nacionalistas, racistas, místicas e ideomaníacas, e nenhuma impostura, nenhuma teoria, nenhuma dialéctica, nenhuma camuflagem ideológica me fará esquecer a sua soberana simplicidade.”

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Alabardas, José Saramago

“Afinal, talvez ainda vá escrever outro livro”, escreveu Saramago no seu diário no dia 15 de agosto de 2009. Poucos meses depois de terminar Caim, Saramago começou a redigir uma história motivada por uma preocupação antiga: a ausência de greves em fábricas de armamento. O mote para a construção da narrativa é a conhecida bomba que não chegou a explodir na Guerra Civil Espanhola devido a um acto de sabotagem por parte de quem a fabricou, um acontecimento comovedor para o Nobel português.

Em 2006, enquanto escrevia as suas Pequenas Memórias de uma vida que afinal se revelara tão grande na verdadeira grandeza da existência, a doença instalou-se na sua rotina. Mas a realidade sempre pediu histórias ficcionadas que parecem dar mais sentido à vida e novas interpretações ao mundo. E era isto que fazia pulsar José Saramago que, perante o abismo iminente da morte, se agarrou à literatura, prolongamento do pensar.

Através da história inacabada de Artur Paz Semedo, funcionário de uma fábrica de armamento, homem burocrata, adulador e servil, e de Felícia, mulher de espírito crítico e forte (quase à semelhança de Blimunda), Alabardas remete-nos para o tão reconhecível universo literário e filosófico de Saramago, reflectindo sobre a responsabilidade pessoal diante dos abusos do poder, a esperança na humanização e os conflitos morais numa sociedade que parece cair na arendtiana banalização do mal, no esquecimento do outro e de nós mesmos.

Mas há ainda outro Nobel em Alabardas. Günter Grass, romancista, artista plástico e activista, que outrora trabalhou como pedreiro e mineiro, ilustrou a obra, que conta também com textos de Fernando Gómez Aguilera e Roberto Saviano.

“Escrevo para desassossegar os meus leitores”, disse José aquando da apresentação de Caim. Por isso, Saramago estará para sempre vivo.

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Maneiras de Voltar para Casa, Alejandro Zambra

Será a casa de Zambra o espaço físico onde habitamos ou a casa que somos?

A acção de Maneiras de Voltar para Casa decorre em duas épocas: os anos 80, durante o regime de Pinochet, época de medo, mas em que existe sempre o reverso – a coragem -, e o presente. Mas em épocas distintas, separadas por 20 anos, a casa é a mesma: o pai sentado no cadeirão a receber o presente com calma e resignação, a mãe a fumar às escondidas, mas é sobretudo o silêncio que é o mesmo. O silêncio de quem parece não tomar uma posição, o silêncio que pode ser resultado do consentimento, do medo ou da indiferença.
É nesta casa silenciosa, nos subúrbios de Santiago do Chile, que um menino de nove anos  cria histórias para explicar as cenas esporádicas de violência e os desaparecimentos dos vizinhos. Mais tarde, no tempo presente da acção, já adulto, o protagonista desta estória procura enfrentar tudo o que não podia perceber enquanto criança e voltar ao passado conturbado do seu país. Enquanto escreve um romance que confronta a inocência, a culpa e a cumplicidade, volta para casa e para as memórias da sua infância. Memórias individuais e memórias colectivas do Chile dos anos 80.  Uma época em que as crianças  aprendiam a falar e a ler enquanto os adultos lutavam ou fugiam; em que faziam bonecos enquanto os adultos matavam ou morriam; uma época em que a vida parecia ser tão vulnerável quanto um avião de papel lançado ao vento.

Voltar a casa é voltar às memórias, às memórias que construímos de nós, dos outros e do país. Partilhar as memórias é permitir que os outros entrem em nossa casa e conheçam quem somos. Ainda que o registo autobiográfico nunca seja admitido, ao ler este livro senti-me a entrar em casa de Zambra.