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Um quarto num hotel

por Mahmoud Darwich

A paz seja como o amor quando chega, quando morre e quando muda de amantes nos hotéis. Perde ele alguma coisa com isso? Beberemos o café vespertino no jardim. Contaremos histórias do exílio a noite. Depois iremos para um quarto — dois estranhos em busca de uma noite de compaixão, etecetera, etecetera.

 

Deixaremos algumas palavras nos nossos dois assentos, esqueceremos os nossos cigarros, outros virão para prolongar a nossa noite e o nosso fumo. Esqueceremos um pouco de sono nas nossas almofadas, outros virão para descansar no nosso sono, etecetera, etecetera. E ainda assim confiamos os nossos segredos aos hotéis? Outros virão para prosseguir o nosso grito na escuridão que nos juntou os corpos, etecetera, etecetera. Somos apenas dois entre os muitos que dormem numa cama pública, que não fazem mais do que repetir as palavras que disseram ainda há pouco outros dois de passagem pelo amor. E a despedida chegará depressa. Ter-se-á este fugaz encontro destinado apenas a fazer esquecer quem nos amou noutros hotéis? Não disseste tu estas palavras cruéis a outro? Não disse eu estas palavras cruéis a outra num outro hotel?, ou tê-las-ei dito aqui, nesta mesma cama? Daremos os mesmos passos, para que outros venham e deem os mesmos passos, etecetera, etecetera.

 

Imagem: Edward Hopper