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Do Amor

de Mary Oliver

Estive apaixonada por mais duma vez,
graças a Deus. Umas vezes foi duradouro,
quer fosse correspondido ou não. Outras
não foi mais do que efémero, porventura durou apenas
uma tarde, mas nem por isso foi menos real.
Perduram na minha mente, estas pessoas belas,
ou em todo caso belas para mim, das quais
há tantas. Tu, e tu, e tu,
que eu tive a sorte de conhecer, ou talvez
tenha deixado escapar. Amor, amor, amor, era o
centro da minha vida, e daí, claro, provém
a palavra para coração. Oh, e já mencionei
que algumas delas eram homens e algumas mulheres,
e algumas — agora carrega a minha revelação contigo —
eram árvores? Ou lugares. Ou música que voava sobre
os nomes dos seus criadores. Ou nuvens, ou o Sol
que foi o primeiro, e o melhor, sem dúvida
o mais leal, que me olhava tão fielmente nos
olhos, todas as manhãs. Por isso imagino
tamanho amor do mundo — o seu fervor, o seu brilho, a sua
inocência e avidez de dar de si mesmo — imagino
que foi assim que começou.

Imagem: Mary Oliver (nascida em 1935, à direita) com Molly Malone Cook (1925–2005) na casa do casal em Provincetown, Massachusetts