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Pedro Eiras

Estou a ler Textos para Nada, de Samuel Beckett, numa edição já antiga (1970) das Publicações Dom Quixote (páginas ásperas, amarelecidas; na capa, o retrato de Beckett, a três quartos: de olhos quase minerais; pele gasta, de iguana; como um fóssil). São ficções breves; memórias, sonhos, quem sabe o quê. Às vezes fazem lembrar os périplos de personagens de Kafka (mas com menos convicções); ou os passeios de personagens de Walser (mas com menos leveza). São textos extemporâneos, claro; penso: se Beckett os escrevesse hoje, conseguiria publicá-los? Vivemos tempos demasiado exigentes de estórias, sentidos, desenlaces – este livro, pelo contrário, perde-se, perde-nos. Para nada, diz o título? Para nada, magnificamente para nada, assim seja.

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