
Arcimboldo

«Dois poderosos mitos fizeram-nos acreditar que o amor podia, devia sublimar-se em criação estética: o mito socrático (amar serve para criar uma multidão de belos e magníficos discursos) e o mito romântico (produzirei uma obra imortal escrevendo a minha paixão).»
Obra derradeira do espírito criador de Roland Barthes, A Câmara Clara é uma reflexão sobre a imagem fotográfica – expressa, aliás, no próprio subtítulo, «nota sobre a fotografia»; mas é, também, uma apaixonada e dramática meditação sobre a vida e a morte.
A Imagem Fantasma é constituído por sessenta e quatro breves ensaios nos quais Hervé Guibert, recorrendo à memória e à fantasia, reflecte acerca da fotografia e da sua experiência pessoal como artista.
Esta foi em certa medida uma resposta a Roland Barthes e ao canónico A Câmara Clara, mas seguindo caminhos distintos na forma como envolve o retrato de família e o de amigos, de desejo e de morte, a Polaroid e o photomaton, a fotografia de Polícia e a de viagem, e, por fim, o fantasma de todas as fotografias que ficaram por fazer.
ARGONAUTAS transporta-nos numa viagem em torno do desejo e da identidade de género, das possibilidades do amor, da família e da maternidade. Através de um relato íntimo e fragmentário, Maggie Nelson incorpora nas suas experiências perspectivas teóricas de autores como Roland Barthes, Judith Butler, Gilles Deleuze e Ludwig Wittgenstein, esbatendo as fronteiras entre o ensaio e a memória, o político, o filosófico, o estético e o pessoal. No centro deste fluxo de pensamento está a sua relação amorosa com o artista Harry Dodge, a família que esta união configura e a viagem que empreendem os seus corpos, em permanente devir: Harry submetendo-se às alterações físicas e hormonais de uma transição de género, Maggie engravidando e vivendo as transformações da gravidez. Uma obra de «autoteoria» e uma reflexão crua e oportuna sobre as políticas de identidade, o feminismo e a teoria queer.
Como o próprio estilo da escrita de Brian Dillon — aglomerativo, associativo, digressivo, curioso, apaixonado e
desapaixonado —, este é um livro que ramifica as possibilidades do ensaio. ENSAÍSMO é um estudo da melancolia e da depressão, uma carta de amor para as belas letras e um relato das vidas de leitura e de escrita, sob orientação de Montaigne, Virginia Woolf, Barthes, Adorno, Walter Benjamin, Georges Perec ou Susan Sontag.
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Brian Dillon nasceu em Dublin em 1969. Os seus livros incluem Ensaísmo, The Great Explosion (nomeado para o Ondaatje Prize), Tormented Hope: Nine Hypochondriac Lives (Wellcome Book Prize) e In the Dark Room, vencedor do Irish Book Award para não-ficção. Os seus textos têm aparecido no The Guardian, New York Times, London Review of Books ou Times Literary Supplement. É editor da revista Cabinet e professor no Royal College of Art, em Londres.
É curto, digressivo, provocador, diletantista, circular, e parece uma combinação delicada e errante da Câmara Lúcida de Roland Barthes e dos aforismos mais longos de E. M. Cioran. Enquanto [Dillon] examina os seus exemplos do ensaísmo, e constantemente revela mais de si mesmo, também o seu próprio trabalho conjuga aquelas selecções estimadas, promulgando em frase após frase a teoria que modestamente abjurou.
James Wood, The New Yorker
Obnóxio /CS/ adj. 1. Que se submete servilmente à punição. 2. Que não tem vontade própria; escravo, dependente. 3. Nefasto, funesto, nefando; ofensivo, nocivo. 4. Vulgar, corriqueiro; baixo, vil. 5. Esquisito, estranho. Com o seu característico sentido de humor, afiado e inteligente, Abel Barros Baptista declina o conceito de obnóxio em diálogos ficcionais, situações reconhecíveis, pequenas encenações e reflexões que têm tanto de entretenimento intelectual como de diversão rasteira.
Sejam sobre dor-de-cotovelo, canivetes, ovos cozidos ou Roland Barthes.
É quase estranho estar a reler Homens imprudentemente poéticos e continuar a descobrir que cada página é uma obra-prima. E pergunto-me com que ingredientes imperfeitos Valter Hugo Mãe escreve um livro perfeito, página a página.
Distorce, retorce o cânone, seja este qual seja, dá-lhe tantas voltas tresloucadas, vira-o do avesso, e o resultado de todas estas reviravoltas imprudentes é a lição da candura como ímpeto transformador, como a única força de linguagem criadora de cosmos.
O escritor elege, para proteger na escrita, as criaturas desabrigadas e apaziguadoras, as mulheres – como a cega menina Matsu e a criada Sra. Kame – perante a crueldade dos que pensam comandar o destino. Mas neste livro deparamo-nos com o modo como os ódios criam fantasmas carnais conducentes à destruição dos que se deixam tomar pela força alucinante e descontrolada dos mesmos.
Todos os signos, rituais, modos fenoménicos que acontecem no livro só podem remeter para o Japão. Em O Império dos signos é notório o fascínio de Roland Barthes por esse Japão que ele diz ter inventado, e inventou, na medida em que perspectivou, em toda a fruição, a materialidade e sensualidade da gestualidade japonesa.
Também Valter Hugo Mãe se dá aos lugares onde pernoita para escrever, respeita-os e por isso os transfigura, rasgando a escrita em plenitude, desde o léxico à sintaxe, compreendendo que a gestualidade é um ensinamento de linguagem e a linguagem ensina o modo de estar no mundo.
Não é essa aprendizagem que escritores e leitores vivem em comum?