Descrição
Pudéssemos florir
para fora de nós mesmos, dando
nada imperfeito, nada retendo!
Denise Levertov
“Escritos ao longo dos derradeiros meses de vida de Denise Levertov, eles são, parece‑nos, o apurar tanto de uma visão da poesia como de muitos dos motivos trabalhados ao longo de toda uma extensa obra: a sacralidade das práticas familiares (“Momentos de alegria” ou “Orelhas de elefante”), a memória revigorante da infância (“Espíritos animais”), a vulnerável e concreta, mas também mitológica materialidade do corpo humano (a longa e prismática sequência “Pés”), a imponência da natureza (a massa volúvel de montanhas e lagos que irrompe em vários poemas, a minúcia animista de árvores e flores), o lamento ecológico (“Uma centena por dia”) e a surpreendente presciência quanto aos efeitos de fragmentação e erosão da memória ocultos sob o impulso tecnológico (“Alienação em Silicon Valley”), assim como a denúncia sem pejo de injustiças (o terceiro poema de “Pés” ou o amargo‑risível “O Paláciodo Poodle”).
Há ainda, nestes poemas, a cristalização de um olhar que, como que preparando‑se para morrer, regressa à lisura da infância, ao espanto primordial perante todas as coisas, de que o desarmante “Primeiro amor” é o epítome – o que os torna, cremos, na melhor introdução possível aos leitores de língua portuguesa dos temas e das intensidades de uma poeta maior do século XX norte‑americano.”
Do Prefácio, Andreia C. Faria e Bruno M. Silva