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Flâneur Arnaldo, “Como Se Desenha Uma Casa”?

Da casa onde vivi a minha infância recordo o fascínio que sentia cada vez que me encontrava com uma das inúmeras portas que escondiam falsos. Cinco velhos andares erguidos no centro do Porto, e entre eles, por baixo de escadas, lá estavam, sombrios, misteriosos, enormes aos olhos de uma criança. Depósito de objectos, lembranças, memórias esquecidas, empilhadas em caixas cheias de coisas vazias, anacrónicas, que se perderam, assim como nós, em algum espaço do tempo.

Quando leio Como Se Desenha Uma Casa, de Manuel António Pina, é como se voltasse a esses esconderijos, a essa parte encoberta do nosso ser. É o véu das recordações que se desprende, e o sempre desejado regresso de que nos fala Homero. Então, sinto os passos das pessoas que amamos que chegam, os passos das pessoas que amamos que partem, nas escadas, nos corredores, as portas que batem… é isso, a nostalgia, o remorso, essa mais-que-coisa que nos fala o poeta…

Manuel António Pina habita as palavras e as palavras habitam-no, por elas se tornou poema. A sua escrita animista, coerente, bela e reveladora tem o dom de transformar um perfil, um género ou número numa pessoa, conferindo-lhe verdadeira dimensão humana. E então o taxista, a peixeira, o professor, deixam de ser um género, uma profissão ou simplesmente mais um, para recuperar a importância que têm de facto, para saírem da “mudez do mundo”. Numa sociedade cada vez mais ambígua, onde as palavras perdem significado e a linguagem vive débil, precisamos de Todas as Palavras, para que, cavando no espírito, as possamos cultivar e lá cresçam, e fiquem a render como se de uma conta a prazo se tratasse.

Depois de desenhada a casa…

Pego na tesoura, e aspirando ao mesmo amor com que Pina recorta as pessoas, humanas e não humanas, também eu recortaria a minha velha casa. Primeiro as paredes, elas que tal como as margens de um rio, serviram de refúgio para que aí pudesse soçobrar, amodorrar, fazendo fé que na imobilidade das coisas não morresse nunca o lugar onde fui feliz.

“Nada no mundo aberto e andarilho poderá substituir o espaço fechado da nossa infância, onde algo aconteceu que nos tornou diferentes e que ainda perdura e que podemos resgatar quando recordarmos aquele lugar que foi a nossa casa.”                                                                                                                                                                            Julio Ramón Ribeyro

A eles:

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Dentro está a Ana e a Margarida

Arnaldo Vila Pouca, 37 anos, livreiro de férias e desempregado a dias, que pretende ser Flâneur a tempo inteiro.

Local da fotografia: Urban Cicle Café, debaixo de três rodas e com amigos por perto.

O livro do Arnaldo pode ser comprado aqui: Flâneur

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Flâneuse Cátia e A Amiga Genial

“Estou encantada com A Amiga Genial da Elena Ferrante, um livro tão belo, tão feminino, sem cair no feminismo, tão próximo da realidade como só um filme do Neorrealismo italiano consegue ser. Talvez esta honestidade suprema, como se a escrita não permitisse a mentira, se deva ao facto de Elena Ferrante ser um mistério e de esse mistério lhe dar liberdade total para escrever sobre a condição humana. Dela (ou será dele?) sabe-se que nasceu em Nápoles, que gosta de Tchékhov  e pouco mais. Mas voltando ao livro… Abro-o e entro em Nápoles, cidade que está em cada palavra, cada vivência, cada pessoa, cada acto de violência, cada acto de perdão, guiada pelas amigas Elena e Lila, que mantêm uma relação que tanto pode ser de complementaridade como de antagonismo, de cumplicidade como de conflito. Sinto-me arrebatada por este livro, pela narração do mundo como um lugar íntimo, que se vai revelando aos que o lêem, como se vai revelando a nossa vida conforme a vamos vivendo. Deixo-vos com esta frase dita por Lila: “As cidades, como as pessoas sem amor, são perigosas, para si mesmas e para os outros” e com um convite para lerem A Amiga Genial”.

Cátia Monteiro, 26 anos, jornalista e livreira, que pretende ser Flâneuse a tempo inteiro.

Local da fotografia: Esplanada do Aduela, debaixo de uma oliveira, a sua árvore preferida e a de Saramago também.

O livro da Cátia pode ser comprado aqui: Flâneur

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Margarida, “A Que Sabe a Lua?”

Enquanto esperava pela aula de ballet, Margarida lia o seu livro preferido: “A Que Sabe a Lua?” de Michael Grejniec.

“Gosto muito deste livro porque tem todos os animais que eu gosto. A minha parte favorita é quando o ratinho come a lua. Tal como o ratinho, para mim a lua também é salgada.”

Margarida Vila Pouca, 5 anos.

Localização: Jardim das Sete Bicas

O livro da Margarida pode ser comprado aqui: Flâneur

MARGARIDA

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Sofia Mei e Karl Ove Knausgård

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“Nem sei bem o que dizer. Sinto-me envolvida pelo livro, pelo autor e pela procura que faz neste tipo de escrita. Não sinto que esteja a ser levada numa determinada direcção, para chegar a um determinado lugar. É casual, profundo, perdido, tal como a vida em geral. Por me identificar tanto com esta postura acabo por encarar a leitura dos seus livros como uma descoberta da vida de alguém com quem nos cruzamos e vamos querendo que esteja por perto, mesmo quando não concordamos, quando achamos que poderia ter feito melhor. Esta ” imperfeição” é sinonimo de vida, e vida num livro faz um livro com vida.”

Sofia Mei a ler “A Man in Love” de Karl Ove Knausgård no Passeio dos Clérigos.

O livro da Sofia pode ser comprado aqui: Flâneur

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Flâneuse Lúcia e “O Meu Irmão” de Afonso Reis Cabral

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“Decidi ler este livro por sugestão da minha neta e porque me identifico com a temática do livro, tive um caso semelhante na família. Estou a gostar muito, é muito emocionante e bonito. Mostra como o amor e os afectos, no livro entre dois irmãos, mas pode ser entre pais e filhos, avós e netos e amigos, podem salvar-nos e fazer-nos viver melhor. Gosto mesmo muito de ler. Com os livros nunca estamos sozinhos. Gosto muito dos escritores que lia na juventude (Camilo, Vítor Hugo, Alexandre Dumas). Mas tenho lido autores portugueses novos e tenho gostado muito, como o Afonso Cruz e o José Luís Peixoto.”

Lúcia Teodora Teixeira, 83 anos.

Local da fotografia: Casa

Podem comprar o livro da Lúcia aqui: Flâneur