Com um grande agradecimento ao Paolo Andreoni, ao Consulado de Itália, à Associazione Socio-Culturale Italiana del Portogallo Dante Alighieri e ao Claudio Magris por este bonito encontro.
Categoria: Notícias
Apresentação do livro “Cartas Reencontradas de Fernando Pessoa a Mário de Sá-Carneiro” de Pedro Eiras
Apresentação do livro “Fotografia e Beleza” de Renato Roque
A Relógio D’Água em 2016
A ficção continua a ter em 2016 um lugar destacado na Relógio D’Água, mas haverá uma particular atenção às colecções de filosofia, ensaio e economia.
Na narrativa em língua portuguesa, há romances de Hélia Correia (Um Bailarino na Batalha), de Rui Nunes (A Crisálida), de Alexandre Andrade (O Leão de Belfort), de Ana Teresa Pereira (Correntes Subterrâneas) e uma novela de Jaime Rocha (Escola de Náufragos).
Do outro lado do Atlântico, chegam Todos os Contos de Clarice Lispector (reunidos e apresentados pelo seu biógrafo Benjamin Moser) e o romance O Que os Cegos Estão Sonhando? de Noemi Jaffe.
Na ficção traduzida inicia-se a publicação de escritores chineses contemporâneos a partir da língua original, começando por Yu Hua.
De Elena Ferrante sairão A Praia da Noite e Fragmentos e de Knausgård novos volumes da sua autobiografia e dois dos ensaios que fazem parte do ciclo Outono, Inverno, Primavera, Verão. Trata-se de dois autores opostos no que se refere à exposição da sua vida privada. Apesar disso, Ferrante é publicada na Noruega pela editora que Knausgård fundou.
O romance de Marlon James, A Brief History of Seven Killings, que venceu o Booker de 2015, será lançado em finais de Maio. De Kate Atkinson sairá Um Deus em Ruínas, que recebeu o Costa Award em 2015. De Dave Eggers teremos Um Holograma para o Rei e O Círculo, que vão ter adaptações cinematográficas, de Tom Tykwer e de James Ponsoldt. Com versão cinematográfica igualmente prevista, neste caso de Ridley Scott, sairá O Cartel de Don Winslow.
Teremos ainda obras de Carson McCullers (Coração, Solitário Caçador e A Balada do Café Triste), de Nabokov (O Dom), de Iris Murdoch (O Sino), de Sylvia Plath (A Campânula de Vidro), de Philip K. Dick (O Homem do Castelo Alto e Do Androids Dream of Electric Sheep?), além dos últimos livros da série Ripley de Patricia Highsmith e Orange Is the New Black, de Piper Kerman.
De Rebecca West será publicado Estufa com Ciclâmenes, uma histórica reportagem dos julgamentos de Nuremberga.
Os clássicos, ou seja, as obras que sucessivas gerações de leitores vão fazendo suas, ocupam um lugar de destaque, com o lançamento da colecção 35 Clássicos para Leitores de Hoje, comemorativa da fundação da RA em 1982. Há ainda a tradução de Nina e Filipe Guerra de Evguéni Onéguin de Aleksandr Púchkin, de Os Miseráveis de Victor Hugo (tradução de Júlia Ferreira e José Cláudio), e de Norte e Sul de Elizabeth Gaskell (traduzido por Frederico Pedreira).
A RA publicará ainda obras fundamentais na área da filosofia de José Gil, Sloterdijk, Bertrand Russell e Byung-Chul Han (O Aroma do Tempo).
Destacamos ainda novos ensaios de António Barreto, George Steiner, Maria Filomena Molder, Steven Pinker, com o monumental Os Anjos Bons da Nossa Natureza, Umberto Eco e antologias de George Orwell e de Chesterton (esta última escolhida e prefaciada por Alberto Manguel).
Na Ciência teremos Pensar os Números de Daniel Tammet e Para Além das Palavras: O Que os Animais Pensam e Sentem de Carl Safina.
A colecção Temas de Economia prossegue com A Economia como Desporto de Combate de Ricardo Paes Mamede, O Euro, a Europa e Outros Textos (título provisório) de Ricardo Reis, A Casa da Dívida de Atif Amian e Amir Sufi e uma antologia de Keynes.
Nas obras de actualidade, temos A Nova Odisseia de Patrick Kingsley, sobre os refugiados na Europa, As Várias Faces do Anonymous de Gabriella Coleman, e ainda Gratidão, que reúne os últimos textos de Oliver Sacks.
Será também relançada a colecção Viagens, com autores como Octavio Paz, Durrell, Virginia Woolf, Stevenson, e continuará a bom ritmo a de Poesia, Universos Mágicos e Livros de Bolso.
A Humanidade nos Passos em Transição
A “Humanidade nos passos em transição” foi o nome que a Edite Amorim escolheu para uma conversa-debate sobre a atualidade, baseada na sua experiência num campo de refugiados na Macedónia, e em dois campos de acolhimento provisório em Berlim. Convidou, para esta partilha e reflexão, a Ana Cancela, também ela com uma experiência no mesmo campo de refugiados, e vieram ambas à livraria Flâneur, no dia 19 de Novembro’15, dispostas a partilhar e debater a Humanidade. Unidas por um desejo conjunto de partilhar, reafirmando o que fica de mais elevado quando tudo à volta parece ruir, com aqueles – e foram muitos- que se quiseram juntar ao debate.
Há vivências que devem ser partilhadas, não só porque ajudam a atribuir sentido às coisas e aos acontecimentos e porque os que ficaram precisam de ouvir os que partiram (são tantas as perguntas: Quem são aquelas pessoas? Que histórias ouviram das suas bocas? Para onde vão? Do que fogem? O que procuram?), mas também porque, como diz a Edite, “há que criar núcleos de amor, de humanidade.”
Este foi, precisamente, o centro do debate. Mais do que os aspetos concretos sobre a crise dos refugiados, a discussão focou-se no que fica de confirmação de Humanidade, com tudo, apesar de tudo. O que fica do Humano, o que se viu, sentiu, ouviu no contacto com estes “Passos em transição”, que confirma a possibilidade de esperança nessa Humanidade em que ambas, Edite e Ana, tanto confiam e defendem.
As motivações para a ida à Macedónia foram diferentes, como diferentes são os seus perfis. Psicóloga de formação, a Edite foi motivada pela curiosidade, a curiosidade pelo outro. Aqui como em qualquer parte do mundo gosta de ir ao encontro do outro, confrontando-se também consigo própria. Kapuscinski refere na obra “O Outro” que esta busca pode ser um dos caminhos para o humanismo: “Lévinas procura sempre o caminho para o outro, quer livrar-nos do jugo do egoísmo e da indiferença (…). Mostra-nos uma nova dimensão do nosso Eu, evidenciando, nomeadamente, que ninguém é uma entidade solitária, porque dentro de cada Eu está também o Outro”.
A tragicidade destes dias tem entrado no nosso quotidiano. É a História a desenrolar-se à frente dos nossos olhos. E desta vez nós podemos intervir. Estamos cá.
Foi isso que sentiu também a Ana Cancela, da área do Marketing e da Gestão, que, com uma abordagem mais jornalística, seguiu para a Macedónia depois de ter organizado uma recolha de bens a nível nacional, na expectativa de registar a chegada de tudo ao destino final.
Os seus relatos incluem as histórias de corrupção que impediram os camiões com os bens recolhidos de entrarem na Macedónia (acabaram na Croácia), que contrastam com a incrível delicadeza que viu nos gestos e palavras daqueles a quem pôde ajudar diretamente, no campo de Gevgelija.
Ana e Edite são amigas desde que têm memória da sua existência, mas no campo raramente se cruzaram. O que fazem, as rotinas que têm, os “cachecóis” que usam no dia-a-dia ali pouco importam. Importa o que são. E no fim do dia o cansaço do trabalho a responder a todas as necessidades (distribuir comida, roupa, cobertores, ajudar as pessoas a embarcar, ouvi-las…) vence qualquer pensamento, vence até a emoção.
O que e quem encontraram no campo? Homens, mulheres, crianças, bebés, famílias inteiras provenientes da Síria, do Afeganistão, da Palestina, do Iraque e de tantos outros lugares mais ou menos improváveis. Pessoas que viram cidades a ruir, amigos e familiares a desaparecer, que viveram os horrores da guerra, outras que os anteciparam e outras ainda que procuram melhores condições de vida e de trabalho, como qualquer migrante.
Edite e Ana, depois de dias intensos a sentir de dentro as histórias de quem passou, destacam uma atitude comum, nos passos de quem se cruzaram: mais importante do que aquilo de que fugiam, era aquilo de que iam à procura. Essa foi a atitude que mais viram presente; a esperança, a resiliência e a capacidade de manter firmes as perspetivas de futuro, num passado próximo tão carregado.
E que bela é essa procura por dias bons de redenção, de paz, de concretização, no fundo de tudo o que todos queremos para as nossas vidas. O “Outro” pode ser colocado como espelho de nós mesmos e nós somos o “Outro” do “Outro”, respeitando as respectivas diferenças e a liberdade de ser e de estar.
E o regresso? Como é voltar a casa? É sentir que não se quer parar, que não se pode parar. Que é urgente ir ao encontro do outro, conhecê-lo, partilhar com ele quem somos, criar empatia e aproximações. É isto que nos torna humanos. E os “passos em transição” referem-se aos passos de todos nós na busca de uma maior humanização.
Deixamos uma janela aberta ao que foi visto nesta viagem, num registo da Edite Amorim sobre esses “Passos em transição”:
https://stepsintransition.wordpress.com/
E agora as palavras de quem esteve presente, em resposta ao “O que te levas deste encontro?”, confirmando o tanto que temos a ganhar com partilhas deste género…
“Levaram-me a viajar, a acreditar na Humanidade para lá de toda a miséria humana.” Mariana S.
“Tirando as capas que penso que me definem, estou pronto/a para me encontrar e encontrar os outros. Que venham mais conversas!” Maria L
“Sensação de humanidade e Limpeza informativa. A essência das coisas do ser humano” Miguel
“Famílias unidas sem perder a dignidade e com o sonho de poder viver uma nova vida”. Eugénia B.
“A Humanidade sempre existe” Paula A.
“O “outro” deixou de ser distante. Encontrei-o na pele da Edite e da Ana: semelhante/diferente – Nosso!” Helena G.
“Levo a palavra “contradição”: a de levar o menos de ‘bagagem’ possível para uma experiência num campo para que possamos, da forma mais isenta e sem ideias pré-concebidas interagir, dar e receber e, por outro lado é toda a nossa carga, bagagem que resulta da nossa experiência de vida que, quer queiramos quer não, influencia a forma como vamos viver uma experiência como a de que ouvi falar.” Marta M.
Fotografias de Lambros Rousodimos
A Flâneur no Público
Há um poema de Manuel António Pina em cima da mesa, ao lado de scones, biscoitos e sumo de laranja natural. Pina Bausch também anda por aqui, através da música da banda-sonora de Pina, o filme de Wim Wenders sobre a incontornável coreógrafa e bailarina alemã. É sábado, início de tarde de início de Outono, e faz-se um Pina brunch na livraria Flâneur. Mas nem o cheiro a scones com compota de morango distrai do essencial: os livros. As prateleiras revelam uma óptima selecção de escritores, entre eles Elena Ferrante, Herberto Helder, Afonso Cruz, Svetlana Alexievich – a nova Nobel da Literatura –, Karl Ove Knausgård, Walter Benjamin, Slavoj Žižek, Jacques Derrida, Max Horkheimer e outros autores que incitam ao cada vez mais necessário sobressalto intelectual e político.
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Feira do Livro Infantil e Juvenil de Bolonha 2015
A Feira do Livro Infantil e Juvenil de Bolonha, criada em 1964, é um espaço de compra e venda de direitos de livros, mas também inclui exposições de ilustração e distingue os melhores livros editados em todo o mundo em quatro categorias: “Ficção”, “Não Ficção”, “Novos horizontes” e “Primeira obra”, às quais se junta um prémio para livros e aplicações em digital.
Os livros Lá fora (Planeta Tangerina), das biólogas Maria Dias e Inês Rosário, e Hoje sinto-me… (Orfeu Negro), de Madalena Moniz, foram distinguidos no âmbito da Feira do Livro Infantil e Juvenil de Bolonha, que decorrerá em Março em Itália. Lá fora foi eleito o melhor livro na categoria “Primeira obra” (“Opera Prima”) e Hoje sinto-me…, escrito e ilustrado por Madalena Moniz, teve uma menção honrosa na mesma categoria. O vencedor na categoria “Ficção” foi Flashlight, com texto e ilustrações de Lisy Boyd e edição da Chronicle Books. O livro premiado para “Não Ficção” foi Avant Après, com texto de Anne-Margot Ramstein e ilustração de Matthias Aregui da Albin Michel Jeunesse. Na categoria “Novos Horizontes” o livro distinguido foi Abecedario, com texto de Ruth Kaufman e Raquel Franco e ilustração de Diego Bianki da Pequeño Editor.
Lá Fora – um guia para descobrir a natureza, primeira obra das biólogas Maria Dias e Inês Rosário, é um livro informativo que convida pais e filhos, crianças e adultos a saírem de casa e a entrarem na natureza que os rodeia, seja na cidade, seja no campo.
Profusamente ilustrado por Bernardo Carvalho, o livro reparte-se por capítulos dedicados às aves, aos mamíferos, aos répteis, às flores, ao céu ou ao mar, à praia e às poças de maré, mas também aos bichinhos que vivem nos jardins e nos quintais.
“A ideia é partilhar o gosto em aprender através da observação, de actividades simples e do raciocínio. Isso pode ser feito tanto vivendo dentro de um parque natural como vivendo num prédio de uma grande cidade. No extremo, até pode ser feito dentro de casa, observando as flores dos vasos, ou as abelhas que as visitam”, explicou Maria Dias, à agência Lusa, quando o livro saiu em 2014.
Hoje sinto-me… é um livro-alfabeto sobre sentimentos, ordenados de A a Z, como audaz, baralhado, curioso, distante, espacial e forte.
Cada palavra é acompanhada de ilustrações, a tinta-da-china e aguarela, que complementam a interpretação de cada uma das escolhas dos sentimentos.
Hoje sinto-me… é o primeiro livro assinado por Madalena Moniz, depois de em 2010 ter feito a ilustração para Sílvio, domador de caracóis, de Francisco Duarte Mangas, que lhe valeu um destaque no Prémio Nacional de Ilustração
Nos últimos anos, Feira do Livro Infantil e Juvenil de Bolonha tem premiado e dado reconhecimento à literatura e ilustração portuguesas. Em 2014, o livro Mar, de André Letria e Ricardo Henriques, pela editora Pato Lógico, recebeu uma menção honrosa na categoria “Não Ficção” e esteve em destaque na feira. Nesse ano, a ilustrador Catarina Sobral conquistou o Prémio Internacional de Ilustração da feira com o livro O meu avô, pela Orfeu Negro. Em 2013, a feira atribuiu uma menção ao livro A ilha, de João Gomes de Abreu e Yara Kono (Planeta Tangerina), na categoria “Primeira obra”. No âmbito da feira, a editora Planeta Tangerina foi considerada a melhor editora europeia de 2013, numa votação feita por outros editores presentes no certame.
Fernando Echevarría vence prémio Casino da Póvoa
Fernando Echevarría venceu o prémio Casino da Póvoa pela obra Categorias e outras paisagens, atribuído no 16.º Correntes d’Escritas.
Nas palavras do júri, constituído por Afonso Cruz, Almeida Faria, Ana Paula Tavares, Maria Flor Pedroso e Valter Hugo Mãe, a «obra revela um caráter monumental, impressionante pelo seu fôlego e constante equilíbrio de espessura poética».
Fernando Echevarría nasceu em Santander no dia 26 de Fevereiro de 1929. Filho de pai português e mãe espanhola, veio com dois anos para Portugal, para Vila Nova de Gaia, onde fez os seus estudos de ensino secundário e cursou Humanidades. Aos dezassete anos voltou para Espanha, onde estudou Filosofia e Teologia, sem concluir qualquer curso. Optou pela carreira docente, primeiro no Porto e depois, já exilado em Paris, para onde parte em 1961. Pode dizer-se que a poesia de Echevarría se insere na corrente antirrealista dos anos 50 do século XX, marcada sobretudo pela sensibilidade metafísica e artística e pelo “imaginismo”.
Os restantes finalistas do prémio eram Fernando Guimarães, A. M. Pires Cabral, Nuno Júdice, José Tolentino Mendonça, Luís Quintais, Daniel Jonas, Golgona Anghel, Renato Filipe Cardoso, João Rios, Matilde Campilho e Fabiano Calixto.