Andrée Chedid (20 de março de 1920 – 6 de fevereiro de 2011) foi uma poeta e romancista francesa de origem egípcia.
Terra e Poesia
A poesia não é evanescência, mas sim presença.
O vocábulo fascina o poeta. Como, através dele, descobrir a palavra? Lugar onde, libertando-se, a palavra descobre o seu pleno estio.
O poema permanecerá livre. Nunca encerraremos o seu destino no nosso.
Não damos nada ao poema que ele não nos devolva centuplicado. Julgamos construí-lo, e é ele que, secretamente, nos constrói.
Em busca de um equilíbrio para o perder de novo, o poeta não escapa à sua própria música.
Os poemas afastam-se, mas o grito permanece o mesmo.
Nunca abordaremos o jardim sem trevas. Nunca atingiremos a madrugada contínua. Melhor assim. Que seria de nós sem a sede? Sem o frágil linho do amor?
Não há saídas sem armadilhas. Cada caminho fica por decifrar. Do singular ao universal, do quotidiano ao durável, é necessário restabelecer – pedra a pedra – a passagem.
A poesia é natural. Ela é a água da nossa segunda sede.
Recusando escolher uma margem com exclusão da outra, uma das provas do poeta – mesmo que a sua água e o seu sol lhe não bastem – deveria ser essa ponte a construir.
Para ser, a poesia não espera senão o nosso olhar.
Voz Consonante, Traduções de Poesia de António Ramos Rosa, Edições Quasi