“O facto de exigirmos sempre o mais elevado, o mais profundo, o mais fundamental, o mais extraordinário, onde só há o mais ínfimo, o mais superficial e o mais vulgar, torna-nos realmente doentes. Isso não faz progredir o ser humano, pelo contrário, mata-o. Vemos decadência onde deveríamos esperar progresso, vemos desespero onde deveríamos ter esperança, esse é o nosso erro, a nossa infelicidade. Exigimos sempre tudo onde, naturalmente, só se pode exigir um pouco, e isso deprime-nos. Queremos ver o ser humano no lugar mais alto, e ele logo resvala para a decadência; na verdade, queremos alcançar tudo e, realmente, não chegamos a nada. E, naturalmente, fazemos a nós próprios as maiores exigências, maiores do que tudo, e, ao fazê-lo, não tomamos na devida conta a natureza humana que não foi criada para estas exigências máximas, maiores do que tudo. O mundo sobrestima em geral o que é humano. Falhamos sempre porque pusemos a fasquia muitos por cento mais alto do que é próprio para nós. E só vemos, se é que vemos, por toda a parte e para onde quer que o nosso olhar se dirija, falhados que puseram a fasquia alta de mais. Mas, por outro lado, digo a mim próprio, onde iríamos nós parar se puséssemos a fasquia sempre baixo de mais?”
Thomas Bernhard, in Betão