Tinha onze ou doze anos, quando aquilo a que chamava o grandíssimo relâmpago se abateu sobre mim pela primeira vez; tudo o resto deixou de ter importância. O dia não ilumina, só existem a noite e a claridade, mas essa claridade vem da noite, é o grandíssimo relâmpago. Só cintila de tempos a tempos, um número restrito de vezes durante uma vida, mas em cada relâmpago vislumbramos algo mais do que aqueles que só vêem durante o dia. Mesmo que depois o relâmpago ainda torne mais obscura a obscuridade que lhe sucede.
René Char
Basta de escavar, de dilapidar a nossa mais próxima parte.
O pior está em todos nós, caçador, no nosso flanco. Vós que aqui não sois mais do que uma pá levantada pelo tempo, voltai-vos sobre o meu amor, que soluça a meu lado, e despedaçai-nos, peço-vos, fazei-me morrer de uma vez por todas.
René Char, in Furor e Mistério
Um Pássaro…
Um pássaro canta sobre um fio
Essa vida simples, à flor da terra.
Com isso se alegra o nosso Inferno.
Depois o vento começa a sofrer
E as estrelas dão-se conta.
Ó loucas, por percorrerem
Uma tão profunda fatalidade!
René Char, in Furor e Mistério
Pintura: Reflexão, de Odilon Redon