“Este livro tem uma grande importância na minha vida, não só enquanto obra, mas também enquanto objecto. Acompanha-me a mim e ao meu pai desde 1993. Recordo-me de o termos encontrado e comprado na Casa do Livro, que hoje já não existe, pelo menos enquanto livraria. Perguntei ao meu pai quem era o autor deste livro e ele respondeu-me que era Álvaro de Campos. «Mas a fotografia da capa é do Fernando Pessoa!», respondi-lhe. Foi nesse momento que descobri o que era um heterónimo e que Pessoa tinha vários. Ao longo destes vinte e dois anos tenho conhecido cada um deles. Álvaro de Campos e Bernardo Soares são os que mais gosto de ler. Sinto que este livro tem uma leitura infinita. Leio-o e relei-o e parece-me sempre a primeira vez, como se fosse um livro transmutável, que se transforma ao longo da vida, da sua ou talvez da minha. Naturalmente que há poemas que nos transmitem sempre melancolia e angústia como o “Aniversário”, mas há outros que vão ganhando diferentes tons, diferentes ritmos, diferentes sentimentos, diferentes musicalidades.
Há dias o meu pai ofereceu-me o livro. A edição que comprámos juntos em 1993, naquela tarde em que descobri o que era um heterónimo. É parte da nossa história.”
João Sousa Dias, advogado e leitor, quase desde sempre.
Local da fotografia: Espiga, um espaço maravilhoso para ler, para se estar ou “ficar muito quietinho a ser” (Pina)