“O meu hábito de anotar a data nos poemas que vou lendo, diz-me que li “Mirleos” entre os dias 10 e 20 de Abril, mas tenho regressado ao livro, mais umas quantas vezes, desde que o comprei. Quanto mais leio João Miguel Fernandes Jorge mais gosto e mais fico intrigado com a sua poesia. Descobri-o pelos meus 22 anos e trouxe-o comigo quando vim estudar para o Porto História de Arte. “O regresso dos remadores” (1982) foi a minha companhia nas duas horas de avião entre Ponta Delgada e o Porto. O que me prendeu na poesia de João Miguel Fernandes Jorge foi a ligação direta com a Arte, nunca tinha lido nenhum poema, até à data, com o título “Richard Long” ou “Dan Flavin”. Ninguém ao meu redor conhecia Dan Flavin em 2005, quer em S.Miguel, quer no Porto, mas alguém havia já escrito em 1982 um poema a Dan Flavin: João Miguel Fernandes Jorge. Tenho muitas reticências em comentar a poesia de João Miguel Fernandes Jorge, porque os 7 ou 8 livros que li ainda estão longe da dimensão de toda a poesia do poeta e porque creio que a complexidade, beleza, conteúdo, dimensão poética, pertinência, ultrapassa qualquer pequeno comentário que eu possa fazer. Contudo, creio que JMFJ, tal como Baudelaire, entende que uma obra de arte é mais merecedora de um belo poema do que um texto de extensa crítica de arte, sempre prospensa a “explicar tudo” (nas palavras de Baudelaire). JMFJ dá-nos novas leituras às obras de arte criando uma nova dimensão, quase que criando um universo paralelo à crítica de arte formalista, tão útil e tão desinteressante ao mesmo tempo. Cria com “Mirleos” uma condensação de tempo extremamente interessante, uma espécie de “museu imaginário” que tem por base um lugar concreto (Coimbra). JMFJ parece ir além do seu já famoso livro “Museu das Janelas verdes”(2001), não estamos apenas perante obras de arte, mas perante “admiráveis ruínas” (“Criptopórtico”). Esta condensação de tempo é claramente visível no uso da linguagem, ora tão simples, fluída, contemporânea, ora tão arcaica (Português antigo ou latim). Mas engane-se quem pensar que a poesia de JMFJ se reduz à máxima “Ut Pictura Poesis”. Vejo a poesia de JMFJ como “Uma vida à minha frente”, talvez por pensar que no meu antigo caminho para a biblioteca da Ribeira Grande, já me tenha cruzado, sem saber, com João Miguel Fernando Jorge, entre o café Central e a rua do Conde Jácome Correia na Ribeira Grande. Uma paixão em crescendo.”
Local da Fotografia: Café Candelabro, Porto
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