É encantador na sua simplicidade, como me parecem ao longe ser também as Pampas de Atacama, onde a pobreza, a dureza do trabalho, do tempo e da terra salitreira encontram a beleza dos sonhos.
Esta é a história de María Margarita, uma «fazedora de ilusões», que através das suas narrações de filmes leva novos mundos aos moradores da Mina. Todas as noites Marguerita era tantos outros; todas as noites a sua casa era cenário de aventuras, de guerras, de comédias, de paixões; todas as noites a plateia mineira viajava no tempo e no espaço, imaginava o andar de Marilyn, a postura de Bogart, a voz de Wayne. É assim a magia do cinema. Dá-nos asas e aproxima-nos.
“Uma vez li uma frase – de um autor famoso, certamente – que dizia, mais ou menos, que a vida é feita da mesma matéria de que são feitos os sonhos. Eu digo que a vida pode ser perfeitamente feita da mesma matéria de que são feitos os filmes. Contar um filme é como contar um sonho. Contar uma vida é como contar um sonho ou um filme”, disse a contadora de filmes, cuja vida é tão diferente da do cinema.
Em toda a sua simplicidade A Contadora de Filmes, como é próprio dos grandes livros, é revelador do que somos e de como vivemos, mostrando-nos os conflitos entre a realidade e a imaginação, entre a infância e a vida adulta, a proximidade humana e a tecnologia, o passado e o futuro.
Letelier, outrora também mineiro, é o escritor que “deu nome aos homens que vivem nesse mundo de areia e de sal que é o deserto de Atacama.” Walter Salles