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Sequência descendente

por Denise Levertov

 

O que eu pensava ser um rio

era afinal o céu.

O que eu pensava ser margem, ilha,

rochas, névoa fluvial,

revelou-se nuvem, sombra,

buracos abertos na tela do céu.

Mesmo a mais funda sombra

perto do horizonte

revelou não ser terra,

e mais baixo ainda estava

o verdadeiro horizonte.

No próprio alicerce do mundo

oblongo,

escuridão mais funda, uma árvore de redonda copa,

um poste telefónico, a aguçada

cordilheira de um telhado, chaminé, duas águas:

silhuetas num céu

diversamente branco, não a ilusória

brancura do rio – e tudo

muito pequeno sob a enorme

vista acima. Pequeno,

como se tivesse medo.

 

Imagem: Joseph Mallord William Turner

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Uma única vez

de Denise Levertov

Tudo aquilo que, porque tinha sido
chama e canto e outorgada
alegria, pensámos fazer, ser, revisitar,
revela ter sido o que fora
nessa única vez; não se abriu
a cada iniciação
uma série, um crescendo: o maravilhoso
aconteceu nas nossas vidas, as nossas histórias
não são pardas dessa ausência: mas não
esperem agora voltar. O que mais
houver será
único como essas coisas únicas. Tentem
aceitar a próxima
cancão em seu corpóreo halo de chamas tão inteiramente
presente, como agora ou nunca.

Imagem: Denise Levertov, fotógrafo desconhecido

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Escadaria Antiga

Escadaria antiga, por Denise Levertov

 

Passos como água escavavam

as amplas curvas de pedra

século a século

subindo, descendo.

Quem pode dizer

se o último a trepar a escadaria

em viagem

descendente ou ascendente

está?

 

 

“Um degrau de escada que não foi desgastado a fundo é, do seu próprio ponto de vista, apenas uma tábua de madeira montada no vazio”.

(Franz Kafka, os aforismos de Zurau)

Imagem: Etel Adnan