Descrição
Não sabemos o que é salvar; se há diferença entre salvar a época e salvar-se a si próprio na época; e o que fazer do peso teológico dessa palavra, disseminada às vezes em seculares poemas. Sabemos, apenas, ou suspeitamos – que eterno e transitório se opõem; mas, a ser assim, os “poetas sem qualidades” sugerem talvez que salvar não é revelar o eterno no mundo, mas – paradoxo – imergir nas águas turvas do transitório. E então, só então, quando o poeta desistiu do eterno, pode surgir um sentido, a beleza, um pequeno fragmento do mundo, salvo.
CRÍTICAS DE IMPRENSA
« Nem sempre se tem chamado a atenção para a modulação disfórica que há nos poetas que falam num “indelével destroço” (Manuel de Feitas), no antigo lugar do medo (Carlos Bessa), numa realidade onde “é tudo opaco e um pouco triste” (Rui Pires Cabral), ou, mesmo ironicamente, no “estuque da insónia” (José Miguel Silva). Pedro Eiras chama a atenção para este aspeto e, oportunamente, leva-nos a entender que estas recorrências difusamente emocionais contribuem para conduzir o leitor a uma dessacralização que conduz a arte às “pequenas circunstâncias da vida”.»
Fernando Guimarães, JL