Peixes Carnívoros

14.00 

de Chantal Guilhonato
Editora: Urutau
Edição: Maio 2025

Descrição

O parque é amplo e insinua-se a todos que nele entram. Se soubessem. Mas não sabem que estão prestes a sucumbir. O parque insinua-se e fá-lo sem rodeios. Ele, pelo contrário, cultiva timidez na forma como se senta ao lado dela. Com um olhar de sumarenta fruta tropical, ela espreme-se em rendição. Sem hora marcada, por entre os galhos, alguém assiste à discreta revolução de um beijo.
(peixe-cravo, página 28)

A prova de que estamos sempre no ponto de partida, ignorantes do futuro e sem noção da maravilha que nos falta está inteira no livro de Chantal Guilhonato.
Subitamente, a estreia de uma poeta do tamanho de Guilhonato mostra como falta saber tudo acerca da poesia, porque aqui se inaugura uma personalidade que não tem paralelo com nenhuma outra, feita de ser tão ímpar que nos desampara.
Tentei encontrar-lhe pares, e julgo que talvez pudesse acompanhar-se de Clarice Lispector e Adília Lopes ou Lourdes Castro e Belkis Ayón, mas apenas como almas que se podem avistar mutuamente à distância, porque de perto, de facto, o mundo nunca viu Chantal Guilhonato, a bizarra, diria absolutamente improvável, maneira de esta mulher o ser e nos dizer acerca dos seus dias.
Tudo é diário ou tudo é para caçar o tempo, que é o mesmo que guardar pequenas coisas no lugar crescendo da memória.
Ao terminar este livro não estamos de leitura acabada. Muito ao contrário. No planeta dos livros acaba de chegar uma habitante de largo fulgor. Ao terminar este livro reconhecemos sua cidadania. Estaremos para sempre na sua vizinhança. Passaremos a ver o que aqui está escrito em tanta coisa de nossos próprios dias. Como para sempre o faremos com Clarice, Adília, Lourdes ou Belkis.
Pessoas assim são inevitável, fértil, maravilhosa companhia. Para sempre.

Valter Hugo Mãe