Descrição
«[…] o que mais me importa […] é aquilo a que hoje se chama a «dívida externa» que, para mim, é um sinal […] do estado do mundo. A dívida externa é aquilo que alguns Estados devem a outros Estados […], a Estados ricos e desenvolvidos – dívida que esfaima, que empobrece em permanência as economias destes Estados ditos pobres. É um mecanismo de capitalismo entre Estados que faz com que certas economias não possam desenvolver-se em certos Estados-nações em razão dos interesses da dívida dita externa a pagar. É uma tragédia planetária, e eu interesso-me por ela mesma, mas também pelo que ela indica da opressão económica entre os Estados-nações. Evidentemente, a questão do direito internacional é também a destes mecanismos da economia mundial, do mercado mundial que, sob a autoridade incontestada, ou muito raramente contestada, desta lei do mercado, dos bancos do Estado, dos mecanismos de endividamento, aprofunda a desigualdade e a dissimetria entre os homens no planeta. E enquanto o direito internacional, as instituições internacionais – que eu não critico aqui nelas mesmas e às quais presto homenagem – não se transformarem na sua missão, nos seus textos, nas suas práticas, para remediar estes mecanismos de escravização, todos os discursos sobre os Direitos do Homem, sobre a igualdade e a fraternidade serão ou alibis ou hipocrisias.»
Palavras Nocturnas, p. 100-101