Descrição
«O que sucede à arte de Isabel de Sá é um bizarro modo de dúvida. Seja na poesia ou nas artes plásticas, a autora coloca-se como alguém perplexo perante o passado mais ávido ou empenhado, como assumindo que, na verdade, sendo tudo tão inevitável, não mudará nada.
O mundo, afinal, segue à revelia da arte, por mais utopias que se possam nutrir. Neste sentido, Isabel de Sá não destrói a sua arte, não destrói o passado, mas tem a coragem assombrosa de se tornar distante, de se acusar como autora tornando-se sua própria contestatária. Vai ao longe de si mesma e não aceita qualquer deslumbre. Quando antes se debatia frontalmente com os nervos de protestar, interferir, hoje ironiza qualquer fúria e possibilidade de inscrição.
Estrear um livro em 2019, recolhendo o muito raro que foi escrito em década e meia, é prova do que se diz atrás. O real, feito do concreto de viver, cheio de comezinho e alterações de planos, acaba por se impôr. Arrasa tudo. A arte, de algum modo, sendo maravilhosa e indutora de satisfações, não se lhe sobrepõe. É uma patologia pela qual temos maior ou menor consideração, conforme a qualidade de maior ou menor lucidez que saibamos exercer.»
Valter Hugo Mãe