Descrição
«ACABEI DE COMER o Peter e empurrei os últimos pedaços
com cerveja – cerveja lager. Ele era tenro e sumarento – suculento – caramelizado e esguio.
Engoli o coração inteiro. Chupei-lhe os ossos – até à medula – e abandonei-os limpos – numa pilha – cuidadosamente elaborada.
Vou usar o cabelo para tecer um gibão sedoso – um cachecol – para enrolar à volta da garganta e uma cinta.
Com os ossos vou construir uma cama – e vou passar horas deitado nela – a sonhar – o crânio dele a fazer de almofada – os pássaros virão e encontrar-me-ão morto.
Vão debicar-me e arrancar-me pequenos bocados de carne.
Alguns deles levantarão voo – para me lançar ao mar – e oferecer aos peixes. O sol secar-me-á e o vento espalhará flocos de poeira sobre a terra.
Os nossos ossos irão pulverizar-se lentamente e transformar-se em pó – a chuva misturando-nos um no outro – e lavando a terra – infiltrando-se nas raízes das árvores – ervas – flores.
Eles encontrarão os nossos crânios – os últimos dos últimos – unidos mandíbula contra mandíbula – na caricatura de um beijo.»