Descrição
«Tomei sempre a estrada do deserto porque desde muito jovem queria saber por que razão as pessoas se esquecem de mencionar nos livros o deserto.
[…] Desde muito jovem, aprendi a amar o fogo do céu, o relâmpago torrencial ramificado por cima da cidade como um derramar do pensamento no cérebro. Em noites de trovoada seca, tornava-me em estremecimentos, detonações, descarga total. Depois abandonava–me a todas as iluminações, essas fissuras que como tantas feridas delineavam o meu corpo virtual, ligando-me à imensidão. E assim fundo o corpo como um clarão no compêndio das palavras. Os olhos, a existência, dobram-se diante do que avança em nós, certeza. O deserto bebe tudo. O furor, a solidão.
[…] Terra observada do silêncio, beleza anterior, o deserto é indescritível.»
Nicole Brossard, O Deserto Malva