Descrição
Quando, em 1936, os socialistas do Left Book Club encomendaram a George Orwell uma reportagem sobre as condições de trabalho dos mineiros ingleses, nada os preparava para a obra imensa que lhes chegaria às mãos. A caminho de Wigan Pier, infiltrando-se como a chuva e o vento por entre as brechas das casas degradadas do Norte de Inglaterra, descendo com os mineiros às catacumbas da existência, Orwell narra, com detalhe e sensibilidade, a história de sobrevivência de uma comunidade acorrentada ao desemprego e a trabalhos inumanos.
E eis que, na polémica segunda parte do livro (que o editor do clube socialista só publicaria a contragosto), se acende uma luz ao fundo do longo e tenebroso túnel.
Numa prosa clara, carregada de ímpeto e ironia, Orwell assume frontalmente o privilégio de ter crescido no conforto da classe média, recusa a trincheira ideológica em que o queriam atirar e faz a ponte para uma visão crítica — e não menos convicta — do que entende por socialismo.
Acima de teorias políticas, acima de intelectuais amigos ou detractores, acima de preconceitos de classe que eram também os seus, O Caminho para Wigan Pier (1937) subsidia a construção de outro mundo possível, mais fraterno e solidário, tão longe da miséria fomentada e ignorada pelo capitalismo industrial do seu país como da distopia totalitária imaginada, anos depois, em Mil Novecentos e Oitenta e Quatro.