Descrição
Estava eu a concluir o meu sétimo ano dos liceus quando uma crise familiar me levou a decidir ir à procura de emprego.
– Vou trabalhar! – anunciei à família, no tom de quem declara: “vou para a guerra!”
– Trabalhar? E os exames? – perguntaram os meus pais.
– Faço-os por mim. – respondi.
– Mas podes?
– Posso.
– Podes mesmo? De certeza?
– Absoluta!
– Então, sendo assim, está bem.
Como isto se passava na Lourenço Marques dos anos cinquenta, procurar emprego resumiu-se a um telefonema. Um primo da minha mãe, Carlos Morais de Azevedo, parente próximo e razoavelmente lá de casa, detinha um cargo importante na Fazenda e prontificou-se logo a dar um jeito. De uma semana para a outra estava o assunto tratado: aspirante a oficial no quadro interino do Almoxarifado de Fazenda, com o ordenado mensal de três mil escudos. Era pegar ou largar. Peguei com gula. Três contos era dinheiro. E poucos dias depois, com as papeladas em ordem, lá fui eu de risca ao lado, apresentar-me ao serviço.