Descrição
No ano do centenário de Natália Correia, celebramos com um livro da poeta a juntar-se à colecção de poesia dirigida por Pedro Mexia.
Quando esteve na América, Natália Correia não gostou do que viu, e descobriu que era europeia, título de um livro seu de 1951. Duas décadas depois, na sequência de viagens a cidades europeias, entusiasma-se com a beleza e a natureza, o cosmopolitismo e a liberdade (estávamos em 1973, à beira de voltarmos a ser «apenas» europeus), mas inquieta-se com o economicismo, a tecnocracia e a homogeneização, motivos que a levariam mais tarde a tornar-se «euro-céptica». Tal como no famoso desenho de Klee que Walter Benjamin usou como alegoria, o anjo que preside a esta sequência de poemas gozosos e zangados, densos e verbalmente exímios, dirige o rosto para o passado e para a catástrofe da História, desejando acordar os mortos e juntar os fragmentos, mas a tempestade do progresso impele-o para o futuro.
À porta dos 50 anos, Natália pergunta «mas então não sabiam que isto dos continentes / está sempre a deslizar», enquanto nos mostra, voraz, catedrais e cruzadas, impérios e aeroportos, valsas e vaticanos, Ulisses e o turismo, Beethoven e o minotauro, Goethe e Guilherme Tell, Sissi e os nazis, deuses e destroços. — Pedro Mexia