Descrição
Entre 1953 e 2003, Sophia de Mello Breyner Andresen publicou quase duas centenas de textos de vária natureza que ficaram dispersos em jornais, periódicos, livros, folhetos, plaquetes e outras publicações. Estes textos testemunham uma vivência da cultura profundamente integrada na vida e restituem a dimensão do empenho artístico de Sophia para que a poesia não fosse uma coisa exclusiva de clérigos e letrados, mas acessível a todos os níveis, e para que a cultura pudesse realmente habitar a vida quotidiana, proporcionando a todos o direito à beleza. Este livro apresenta uma bibliografia dos textos dispersos e um exemplo da sua utilização em sentido crítico: uma interpretação da obra de Sophia à luz das suas palavras.
«Indubitavelmente, estamos perante uma parte da obra da autora que nunca por ela foi recusada e na qual a reflexão metaliterária, metacultural, política, social se desenvolve com sempre maior clareza, ajudando a penetrar o complexo e fascinante mundo desta escritora. Os ensaios sobre outros escritores representam uma espécie de cânone mínimo e pessoal que enriquece as relações intertextuais da obra de Sophia. Os depoimentos sobre outros artistas (como, por exemplo, Maria Helena Vieira da Silva) mostram a abertura da visão com que Sophia considera a arte e o papel do artista no mundo dos homens, realçando muitos conceitos que a ela própria se adequam. As entrevistas aprofundam e alargam a perspectiva com a qual se pode abordar a leitura da poesia e da prosa da autora, sempre posta em relação com a concretude do mundo real e da vida quotidiana, na qual a cultura constantemente tem de se integrar para que, como Sophia deseja, ela não seja expressão de uma elite restrita, mas possa pertencer a todos e possa a todos melhorar a vida. Os testemunhos e os depoimentos mais envolvidos politicamente sublinham, justamente, este papel da cultura que, com clareza, Sophia descreveu desde as intervenções na Assembleia Constituinte até às páginas dos jornais.»
Federico Bertolazzi