Descrição
Eis um romance erótico de autor anónimo. No texto de abertura, Octave Lothar, um desconhecido, narra as circunstâncias em que descobriu e traduziu as cartas que formam o corpo deste livro e traçam o fio da acção. A narrativa diz respeito a um serralho sultânico do Oriente Médio, em época não mencionada mas que deverá situar-se nos últimos anos do século xix ou no começo do século XX. As doze cartas, enviadas ao longo de quase um ano, são escritas por Denise — uma francesa ao serviço do harém de um sultão — ao seu amado Pierre, que se encontra em França e cujas respostas se perdem.
«Dar-te a ver os frutos do voyeurismo a que sou coagida é sinal certo, evidente de amor — como se, vendo aqui tudo quanto sabes, sentisse que te dou a ver e contigo partilho, abismando-as em ti, as cenas vividas da vida do Serralho que perante mim desfilam. Tal é o sentido assumido destas cartas e a essência amorosa que as impregna.»
«As horas diurnas do hammam são buliçosas pela presença vicejante e vivaz das concubinas. O acesso é interdito a eunucos, só o gineceu ali penetra: e as mulheres permitem-se grandes liberdades, sobretudo a da nudez integral, oferecendo-se umas às outras no impudor do olhar. Não duvides de que esses corpos em seiva, acesos pelos rigores da contenção e que assim ardem lentos ao lume imperioso do desejo, esses olhos ávidos da volúpia de verem e de serem vistos, rompem enfim num diálogo vivo. As concubinas expõem-se então nuas, rutilantes pela imersão na água, e ostentam os faróis da sua carnalidade, trocam mensagens de desafio e provocação, supremacia, submissão e desejo.»