Não Importa

14.00 

de Agota Kristof
Tradutor: Manuel Alberto Vieira
Editora: Flâneur
Edição: Agosto 2025
 

Descrição

Uma mulher explica ao médico que o seu marido partiu o crânio com um machado ao cair da cama. Um rapaz verifica a sua caixa de correio duas vezes por dia, à espera de uma carta dos pais que o abandonaram ao nascer. Um homem solitário entretém-se a responder às constantes chamadas telefónicas que recebe por engano. No dia do aniversário de uma dona de casa, o seu marido insiste em encarregar-se de todos os preparativos para a festa. Outra mulher lamenta nunca ter caminhado de mãos dadas com o seu pai enquanto se dirige ao seu funeral.

Agota Kristof reuniu em Não Importa vinte e cinco contos que escreveu desde que se exilou da sua Hungria natal e se refugiou na Suíça, onde teve de aprender a falar, ler e escrever numa língua que não era a sua, como explica no seu relato autobiográfico La analfabeta (publicado em 2004, apenas um ano antes destes contos). Assim, estes são os seus primeiros textos escritos em francês, que ela manteve em repouso durante décadas, ainda insegura do seu vocabulário e do seu estilo, mas pressionada pela necessidade imperiosa de escrever. São contos muito curtos, banhados por uma atmosfera estranha e perturbadora, como pesadelos reveladores, que corroboram a visão de Kristof do mundo como um lugar inseguro, hostil, onde a desgraça pode se manifestar a qualquer momento.

Esta descrição minuciosa e clínica da maldade percorre praticamente toda a sua produção literária, e aqui é-nos apresentada sem intermediação, com os factos a nu. Conflitos familiares, traumas infantis, surtos de loucura, decisões letais… Não importa, nada importa, a vida é assim tão impiedosa e ninguém pode mudá-la. Embora talvez, afinal, reste algum espaço para a compaixão e a ternura.