Descrição
Quando se fala em Haroldo de Campos, logo se pensa no movimento concretista e nos inquietos anos 1950. Apesar de ser impossível, ou pelo menos impraticável, separar um do outro, a inquietação do poeta foi muito além das pesquisas formais do concretismo, deixando uma obra vasta e variada – é bem verdade que sempre marcada pelo experimentalismo -, incluindo a poesia, o ensaio, a tradução.
Natural da cidade de São Paulo (1929), Haroldo de Campos fez inúmeras viagens pelo mundo e aprendeu diversos idiomas, atividades consideradas por ele vitais para a expansão de seus horizontes espirituais e o enriquecimento da própria língua. Nos anos 1950, com Augusto de Campos e Décio Pignatari, criou o grupo Noigandres, a “flor que afasta o tédio”, um dos pilares do movimento concretista.
O movimento concretista foi lançado publicamente em 1956, em uma exposição no Museu de Arte Moderna de São Paulo. Já era então poeta com vários livros publicados, a partir do Auto do Possesso. Poemas concretistas foram publicados em livro, pela primeira vez, no volume O Â Mago do Ô Mega (1956).
Na época, em tom polêmico, Haroldo alegava que “o poeta, como afirma Jakobson, é aquele que configura a materialidade da linguagem. Nesse sentido, toda poesia digna deste nome é concreta: de Homero a Dante, de Goethe a Pessoa”. O sentido inovador acompanhou o poeta ao longo de toda a sua obra, até o texto barroco de Galáxias, “livro de viagem e de viagens, viagem-livro”, como observa Inês Oseki-Dépré no prefácio de Melhores Poemas, até o inquietante Finismundo: A Última Viagem e os elaborados Novos Poemas.
A mesma inquietação assinala a sua atividade no campo da tradução, por ele denominada transcriação e definida como “tradução que se propõe como operação radical”. Uma operação radical que pôs em português alguns dos maiores poemas de todos os tempos, de Safo à Ilíada, de Dante a Maiakóvski.