Descrição
Masculinidades Debaixo de Fogo — Homossocialidade e Homossexualidade na Guerra Colonial situa a homossexualidade nos contextos da crise da masculinidade, da crise do regime ditatorial e da crise do colonialismo que culmina na guerra, mas também da crise da instituição militar e da cultura castrense, com o propósito não só de rever os estereótipos que a cumulam, mas também aquilo que pensamos a respeito de cada um deles. É este o ponto de partida de uma análise da impossibilidade de os homens mobilizados para as guerras coloniais delas regressarem iguais ao que eram quando para lá foram. Guerras de que não regressam os mortos, mas também não os vivos em cujos corpos sucumbe a pátria e soçobra a masculinidade, ambas ocupantes desse espaço corpóreo que lhes é comum e onde continuaram a digladiar-se sem tréguas mesmo depois da pax revolucionária e democrática que para eles não veio.
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A dupla impossibilidade de regressar, notória nos textos que se debruçam sobre o malogro da masculinidade mediado pela experiência da guerra colonial que precisamente a deveria consolidar, constitui o ponto de partida da presente análise, que se debruçará, nomeadamente, sobre: Os Cus de Judas (1984), de António Lobo Antunes, Nó Cego (1993), de Carlos Vale Ferraz, Os Navios Negreiros não Sobem o Cuando (2005), de Domingos Lobo, Até Hoje (Memórias de Cão) (1988), de Álamo Oliveira, as peças de teatro Um Jeep em Segunda Mão (1982), de Fernando Dacosta e Quando os Medos Ardem (2001), de Domingos Lobo, e o filme 20,13 — Purgatório (2006), realizado por Joaquim Leitão, a que se devem acrescentar as obras Lugar de Massacre (1975), de José Martins Garcia, Persona (2001), de Eduardo Pitta, A Sombra dos Dias (1981), de Guilherme de Melo, O Retorno (2012), de Dulce Maria Cardoso, que vêem a guerra e a masculinidade a uma luz diferente, mas complementar.
[António Fernando Cascais]