Descrição
«Entrei na grande casa e caminhei por sobre as águas que pintavam os tectos de azul cobalto, animados de tritões, sereias e ouriços do mar. Pelos corredores davam às salas grumetes gibraltinos, corsários do Libano e cavaleiros malteses. O ponto de fuga apontado à escadaria do zimbório ferido nos flancos pela luz da foz e pelas sombras que vinham drapejar ali, tombadas do lado do castelo. Em cada sala frascos de linhaça e terebentina; restos de óleo em panos de linho tingidos de branco de zinco, sangue de boi e azul cerúleo. A sul a vista narcótica do estuário do Tejo, um pequeno Mediterrâneo a convocar o olvido das auríferas areias do fundo e da prata das conchas. Sobraram estes negativos sobre vidro e a maiêutica pulsão de lhes dar nomes almas e destinos: para os trazer de regresso à praia, iluminados da memória inteira do mundo.»