Descrição
«Charles Ferdinand Ramuz, já romancista assumido, olhava com desagrado para o mais vulgar sentido da palavra romance: «— A palavra romance é mal empregue; e neste momento feia; por aí se arrasta em todo o lado […] e melhor seria encontrar-lhe outro nome […]. O romance deve ser um poema», escreveu no Journal de Genève em Setembro de 1905, na altura em que tinha publicado Aline, essa primeira ficção que surgia ao público mudada desde a poesia-verso até à poesia-prosa, conciliando-a assim com o que era exigido pela fórmula-romance.
Não foi, no entanto, este ambíguo pé em dois mundos da forma escrita que soltou todas as vozes suíças de uma incomodada oposição; foram, sobretudo, um desprezo sintáctico que hostilizava os bons comportamentos da literatura; uma invenção de frases com ritmos que atropelavam regras do bem-escrever, mal aceites pelo orgulho literário de um país «menorizado» por um seu escritor tão avesso à correcção formal dos maiores escritores da língua francesa. Ramuz não se furtava a sacrifícios gramaticais para salvar verdades da linguagem oral dos «seus» aldeões, para dar à sua prosa o andar lento e pesado dos que voltam a casa fatigados pelos trabalhos do campo.»
— Aníbal Fernandes