Descrição
É unânime ver na Ilíada o deflagrar do grande épico furor narrativo de uma cultura de heróis e super-heróis, ciosos da sua dignidade de ser homem no seio duma natureza que acolhe deuses; decerto será unânime a leitura da Ilhíada como exploração doutro ritmo (mas com “migalhas da mesa de Homero”) para esta cultura feita de pura ânsia de lucro e poder, e deuses que entre si disputam a existência, numa natureza exausta e que ainda serve, tudo à custa de deserdados, oprimidos e excluídos, que teimam em sobreviver.
«eram assim os putos das ilhas com quem
se criou a minha fala, onde falei e, sem deixar de recriar,
falei tudo o que nelas arranha e se cria; elas são no início
e elas estarão no fim, pois tudo é assim, é redondo como
o universo, todo de buracos que parecem vazios, tal como
detrás da porta das ilhas se imaginam escadas que sobem
e que descem, buracos vazios de viver, só uma passagem,
e não esta cabra desta magra vida de ilha, de ida sem volta,
vida que a dada altura deixou de valer […]»