Descrição
Sem que lhe falte a meditação melancólica sobre a finitude humana, a extinção e as ruínas, a instalação Frutos e Ossos será talvez uma forma indirecta de reflectir sobre a possibilidade de imaginar de novo e de actualizar a esperança e a capacidade de agir no nosso próprio tempo.
Este livro foi publicado por ocasião da exposição Frutos e Ossos, realizada na Galeria águas livres 8, em Lisboa, de 11 de Abril a 11 de Maio de 2019.
CRÍTICAS
«A presente instalação consiste numa constelação de vários grupos de peças que representam formas orgânicas, naturais e de criação humana — frutos, legumes, vários objectos de uso quotidiano como garrafas, talheres e pratos, e também ossos humanos e de animais. A natureza familiar e muitas vezes botânica dos objectos que compõem a instalação insere-a na tradição pictórica de cenas de mercado e interiores de cozinha, especialmente populares nos Países Baixos durante o século XVII. […] Estas cenas, que geralmente procuravam representar riqueza e abundância ou os meses do ano e o ciclo das estações (e da vida), incorporavam igualmente sugestões eróticas, evocando a fertilidade e certas partes do corpo humano. […]
A representação escultural dos frutos feita por Valdez Cardoso não possui a sensualidade voluptuosa das representações do passado. De facto, tanto o processo da corrupção como o potencial regenerativo que pairava por trás da ameaça da putrefacção desapareceram por completo. […]
Sem que lhe falte a meditação melancólica sobre a finitude humana, a extinção e as ruínas, a instalação Frutos e Ossos será talvez uma forma indirecta de reflectir sobre a possibilidade de imaginar de novo e de actualizar a esperança e a capacidade de agir no nosso próprio tempo.
Logo, pareceria um convite a repensar e alterar activamente as nossas opções globais enquanto colectivo humano. Em vez de cultivarmos uma ética de desprendimento, como habitualmente defende a antiga disciplina ascética do memento mori, somos antes de mais nada encorajados a renovar o nosso olhar e a respirar outra vez a vida, revigorando a vibrante policromia da sensualidade, convivência e voluptuosidade nas nossas existências interligadas. Estamos certamente a lidar aqui com uma espécie de memento vivere.»
Katherine Sirois