Descrição
Impaciente, descrente, anti‑épica, desconfiada de epifanias, a reconhecível voz autoral de Errático, terceiro livro de poemas de Rosa Oliveira, discute as coisas‑em‑si‑mesmas questionando os processos estilísticos e as construções teóricas que usamos para representá‑las. Em vez da angústia da influência de Bloom, a «angústia da fluência»; em vez do correlativo objectivo de Eliot, o «ocaso cínico»; em vez da omnipotência da linguagem poética, a «incapacidade metonímica»; em vez do estilo como altivez, a nossa condição de «pobres criaturas flaubertianas». Lúdicos e disfóricos, os poemas convocam paisagens originais e mitologias inesperadas, algumas desgostosas, algumas paródicas, Viseu e «os anos 70», a infância e a morte, Heráclito e Luke Skywalker. Um «pensamento‑sombra» ensombra tudo, transforma as coisas em referentes obsessivos mas inacessíveis. E no fim fica a pergunta: «o que faremos do tempo, única, insolúvel questão»? O que faremos do passado, ao qual ninguém regressa? Ou do futuro que, como avisou Leonard Cohen, talvez não seja radioso?
— Pedro Mexia