Descrição
Este livro foi publicado por ocasião da exposição «João Queiroz – Encáusticas», com curadoria de António Gonçalves, realizada na Galeria Ala da Frente, em Vila Nova de Famalicão, de 6 de Fevereiro a 21 de Maio de 2016.
Encáusticas, é preciso saber do que se trata. Vamos ao latim: encaustum, i, n. 1. Pintura encáustica (feita com cera, cores e fogo). 2. Tinta de púrpura de que os imperadores se serviam, para assinarem. A etimologia grega ainda calha melhor, pois o mesmo verbo e o mesmo substantivo servem para falar tanto de uma chaga provocada pelo fogo, como de uma pintura feita com cera que foi ao lume. Sempre nos admiramos com o mais evidente, isso que sempre pressentimos, i.e., que entre a pele, a ferida, a mancha, o desenho, a pintura, os contágios não param de se multiplicar. Quase se pode dizer, contra todos os idiotas de serviço, que, enquanto o leite se soltar do peito das mulheres, alagando as blusas, e o menino bolçar, soberanamente satisfeito, enquanto a criança sujar com lama as mãos, o rosto e o bibe, e a nossa pele for ferida, a pintura há-de existir. Lembre-se que ornamento e lepra estão, na origem mais antiga conhecida por nós, guardadas lado a lado, sem hierarquia, na mesma palavra que deu pintura em português. A relação entre os dois sentidos é um travo na boca. [Maria Filomena Molder]