Descrição
«Pouco foi o que corrigi destes contos: um ou outro erro de sintaxe, um ou outro erro de pontuação. De resto, creio que a realidade que lhes deu origem não se alterou. Mais: atrevo-me a dizer que jamais mudará. Haverá sempre suicidas convictos, gente desamparada que ronda pelas zonas da estupidez e da vaidade humanas, desesperados que procuram a salvação e tentam comprá-la em casas da especialidade, rebeldes que sabem que hão-de morrer, casais abastados cuja razão de existir é a competição com outro casal abastado, escravos das modas literárias afundados em perplexidade e desassossego, seres oblíquos para quem a vida é tangencial, peixes invisíveis na última cintilação do crepúsculo, tipos que é preciso assassinar, obsessivos que dão mais valor à liberdade do que aos valores familiares, e alguém que sonha com um castelo na Irlanda.
As pessoas falam da realidade e eu não creio que ela exista. Julgo que há duas realidades e que o que nos acontece é sempre paralelo ao que acontece a outro. Esta simultaneidade foi a minha obsessão. Ainda é. Julgo por isso que, nestes contos como na vida, o humor e a dor cumprem o seu inesperado destino.»