Descrição
Desenhar no escuro, apenas isso.
Entre vazio e infinito, imaginar
o esquema de um lugar, as linhas
de uma ideia, o gesto rápido do braço,
o esquissar. Nada mais do que isso.
Conceber, no escuro, a clareza de uma janela.
Com a menos sábia das mãos traçar
depressa, entre linhas paralelas, certa brandura
de estar. Um pedaço de céu, o templo
formado com a ponta de uma vara, moldura
aberta e vazia onde o infinito entrava. Onde
velhos áugures viam o tempo por vir
esboçado do natural.
Desenhar no escuro, a giz ou a cera,
um pensamento claro, ainda em esquema,
nada mais do que isso. Mas agora a noite cai
de cada lado das linhas, cinzamente,
como chuva miudinha sobre esta topografia.
E nenhuma fronteira política divide em duas noites,
dois cinzentos desiguais, a extensão nocturna,
sinistra, a todo o tamanho do mundo.