Descrição
O flâneur é — foi? — um atributo das cidades. Das metrópoles. Não o contrário. Não é o homem que caminha a cidade, é a cidade que, entre a multidão dos seus deuses, inventou uma imagem, um semi-deus da marcha. Não se diferencia assim tanto, afinal, dos músicos do metro ou dos taxi-drivers.
O flâneur não parece ter consciência do que faz, do que é. Entrega-se, como um agente, como um médium, como uma marioneta, para que o espírito da cidade o arraste pelas suas ruas.
Porém, há imitadores. O excessivo interesse suscita a cópia. E tanto tempo depois, hoje notamos algo forçado, lugares comuns, frases feitas: todos vêem flâneurs em todo o lado, todos são flâneurs em todo o lado.
Não pode ser assim. O flâneur está associado ao dandismo, a um determinado momento histórico. O último furor da burguesia, finais do século XIX, inícios do século XX. Esse intervalo de graça, anterior às guerras mundiais. Anterior à queda dos impérios modernos.
Enquanto a cidade exista, enquanto possa ser isolada e reconhecida, o flâneur será o seu fantasma; o verdadeiro dono das metrópoles. O seu ícone. Uma espécie de performer, de estátua viva. Como as raparigas em flor.