Descrição
Era um peixe tão feio que nem parecia um peixe. Uma pedra
feita de carne fria musgosa e invasiva, salpicada de verde e branco.
A princípio não o vi, mas depois encostei a cara ao vidro e tentei
ficar mais perto. Enterrado naquela vegetação inverosímil, a curva
pendente dos beiços espessos, uma careta por boca. A pequena conta preta do olho. Cauda grossa raiada de manchas escuras. Mas não tinha mais nada identificável como peixe.
Este é dos feios.
A meu lado inesperadamente um homem de idade, a voz dele uma
surpresa indesejada. Nunca ninguém falara comigo aqui. Espaços escuros, húmidos e quentes, um refúgio da neve lá fora.
Acho que sim, disse eu.
Aqueles ovos. Está a tomar conta deles.
Foi então que vi os ovos. Tinha pensado que o peixe estava parcialmente escondido atrás de uma anémona‑do‑mar branca, um cacho de grânulos redondos moles e brancos, mas via agora que não havia hastes, cada grânulo destacado, ovos como que pendurados dos lados do peixe.