Descrição
E se a felicidade fosse uma doença? Partindo desta ideia simples, Paulo José Miranda, no estilo torrencial a que nos habituou, e sempre tendo a ironia em pano de fundo, faz-nos reviver o estranho universos das relações, as amorosas e as familiares, mas também as científicas e filosóficas. Como se tudo não passasse de uma teia de aranha, que tanto mais aperta quanto nos tentamos soltar. Um ensaio mascarado de novela? Uma dissertação científica que finge ser testemunho memorialista? Tudo será possível, mas como acontece nos seus romances-deriva, o tema, no caso o sempiterno da felicidade, não voltará a ter o sabor gourmet, aquele valor sexy que lhe é atribuído a torto e a direito.
OPINIÃO
DOS LEITORES
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PENSAR A FELICIDADE AO CONTRÁRIO
Jorge Humberto Dias (Diretor do Gabinete PROJECT@) | 06-12-2018
Desde 1998 que leio livros técnicos sobre a felicidade. Principalmente na área da filosofia, mas por vezes, leio também noutras áreas, como a psicologia, a economia, a política e a comunicação social. Ler este livro de Paulo Miranda foi um autêntico exercício filosófico. Pensar na situação ao contrário. Costumo utilizar esse instrumento nas minhas consultas de aconselhamento filosófico. É muito útil para desbloquear situações, quando as pessoas sentem alguma dificuldade em desenvolver o seu pensamento na análise de uma situação da sua vida. Pensar ao contrário pode abrir um novo horizonte, uma nova perspetiva. Seja como for, este livro não defende uma definição filosófica de felicidade, mas uma definição neurológica. E este é o ponto central da aventura. Para quem leva a sério estes temas, é importante ter em atenção que existem várias definições de felicidade e que a sua diferença é significativa quando estamos a olhar para as diferentes áreas científicas. Uma ideia interessante é considerar que a felicidade é uma questão humana transversal, que deve preocupar os governos, as organizações e as pessoas. Neste livro, é dado mais destaque à dimensão da saúde pública. É interessante o termo “eudaimonina”, recuperado pelo autor na tradição aristotélica e utilizado para denominar uma endorfina produzida pela hipófise, substância que levaria as pessoas a procurarem a felicidade. Os sintomas da felicidade seriam uma espécie de “alucinação”, que levaria as pessoas a não querem trabalhar muito, a valorizarem-se excessivamente e a não conseguirem abandonar esse desejo, nem a admitirem a doença (da felicidade). O livro vale pela exploração que faz desse “novo” paradigma, ao mesmo tempo que desenvolve as vivências das personagens na história, transportando-nos para o seu âmago. É igualmente interessante ver os exercícios sugeridos para evitar a doença da felicidade, assim como o contributo das várias componentes da vida: fazer amor, dançar, cantar, desporto, etc. No entanto, o autor recorda-nos sempre que não existe cura para a doença da felicidade… Talvez por isso o medo tenha um lugar de destaque na vida humana.