Carl Sandburg

Carl (August) Sandburg nasceu em Galesburg, Illinois, a 6 de Janeiro de 1878. Os seus pais, August e Clara Johnson, emigraram para a América vindos do Norte da Suécia. A família Sandburg era pobre e Carl abandona a escola aos 13 anos para trabalhar. Nos 6 anos que se seguem foi aprendiz de barbeiro, maquinista de teatro, operário numa fábrica de tijolos, aprendiz de oleiro, lavador de pratos em hotéis de Denver e Omaha e trabalhador agrícola nas searas do Kansas. Quando, em 1898, é declarada guerra à Espanha, Sandburg alista-se na companhia C VI dos voluntários do Illinois e presta serviço durante 8 meses em Porto Rico.
De volta da campanha e a casa, Sandburg decide entrar no Lombard College onde faz um percurso académico de 4 anos. Encorajado pelo seu professor Philip Green Wright, publica o seu primeiro volume de poesia, o conhecido opúsculo Reckless Ecstasy (1904). Abandonado o College, Sandburg muda-se para Milwaukee onde trabalha num escritório de publicidade e como repórter num jornal. Aí conhece Lillian Steichen, irmã do fotógrafo Edward Steichen, com quem casa. Simpatizante socialista, Carl trabalha para o Partido Social-Democrático, no Wisconsin, como organizador distrital entre 1910 e 1912. Nesse ano a família Sandburg viaja para Chicago. Carl trabalha então como repórter no Chicago Daily News, percorrendo ruas e cafés, vivenciando o mundo das prostitutas, dos operários e dos vagabundos. Neste contexto, emerge o seu memorável poema Chicago, fruto do seu conhecimento íntimo da vida urbana, dos anos de jornalismo, da visão socialista e crença na justiça social e económica, mas mais importante, ainda, da fé nas pessoas – the mob.

Eis a diferença entre Dante, Milton e eu. Eles escreveram sobre o inferno sem nunca o terem visto. Eu escrevo sobre Chicago depois de ver a cidade durante anos e anos.

Carl Sandburg, de Carl Sandburg: A Pictorial Biography

Em 1914, uma série de poemas seus aparece na revista Poetry e o seu já famoso Chicago ganha o Prémio Levinson. No decurso de pouco mais de um ano é publicado o seu primeiro livro, Chicago Poems (1916), a que se segue Cornhuskers (1918), vencedor do Prémio Pulitzer (1919). No espaço temporal de 1920 a 1929, edita Smoke and Steel (1920), cujo teor revela a procura pela beleza no modernismo industrial, Slabs of the Sunburnt West (1922), Good Morning, America (1928) e Steichen the Photographer (1929). Neste período profícuo, Carl é reconhecido como membro do movimento Chicago literary renaissance, compartilhado por autores como Ben Hecht, Theodore Dreiser, Edgar Lee Masters e Sherwood Anderson (grande admirador da poesia de Sandburg afirmava que de todos os poetas da América ele é o meu poeta). Torna-se então evidente que Sandburg, poeta da superação do estatismo agrário e do verso livre da tradição whitmaniana dos poetas caminhantes, é já para todos os que por ele se interessam o grande poeta da América industrial.

Seguem-se os anos vinte, época em que Sandburg inicia alguns dos seus projectos mais ambiciosos, dos quais se realça a biografia de Abraham Lincoln. Desde a juventude, pensou, procurou e recolheu informação sobre o Presidente que muito admira e assim, gradualmente, escreve aquela que será a obra definitiva, composta por seis volumes, terminada em 1939 e vencedora do Prémio Pulitzer de História.

Raras vezes na história da humanidade surge um homem que ao mesmo tempo é aço e veludo, que é duro como uma rocha e suave como a neblina, que guarda no seu coração e na sua mente o terrível paradoxo da tempestade e da paz indizível e perfeita.

Carl Sandburg, de uma sessão no Congresso que assinala o 150o aniversário de Abraham Lincoln, 12 de Fevereiro, 1959

Nos anos 30 a sua poesia perde alguma força social, contudo, sem nunca abdicar dessa mesma consciência ou da sua whitmaniana crença no povo, edita em 1936 The People, Yes, livro em que continua a cantar a América no papel, usando a linguagem do povo, entrando nela, repercutida nas suas alegrias, tristezas e tragédias. Publica, ainda, entre outras obras, livros infantis, colecções de folclore americano, baladas em The American Songbag e The New American Songbag, a biografia Mary Lincoln: Wife and Widow (1932) e o romance Remembrance Rock. Recebe um segundo Prémio Pulitzer com o livro Complete Poems (1950). As suas últimas obras em verso são Harvest Poems, 1910-1960 (1960) e Honey and Salt (1963). Sandburg morre a 22 de Julho de 1967 na sua quinta, em Connemara, Carolina do Norte, junto da sua família. Em Setem-
bro desse ano cerca de 6000 pessoas prestam homenagem ao poeta do povo no Lincoln Memorial em Washington.

Parece consensual a qualidade única do estilo de Carl Sandburg. Como Whitman, cantou-se a si e ao povo, e nos seus melhores poemas os dois tornam-se um só. Sou o povo – a turba – a multidão – o magote. Sabiam que todas as grandes obras do mundo acontecem através de mim?

A poesia deve ter por objectivo a verdade prática, escreveu Lautréamont e Carl Sandburg parece corresponder a este apelo. Nas suas Definições de Poesia acrescenta que esta é uma arte praticada com o material altamente plástico da linguagem humana. Mais do que a forma e a estética, importam os testemunhos de homens e mulheres desconhecidos e a virilidade da cidade de Chicago, que carrega em si o progresso, o dinamismo, a prosperidade e as desigualdades sociais, tantas vezes denunciadas pelo poeta, como nos poemas Anna Imroth e Os Dias das Cebolas. Também a guerra e a preocupação pelos que nela morrem são temas recorrentes na obra de Sandburg, bem como a força implacável da natureza que, no nascimento e na morte, está sempre lá, como uma testemunha silenciosa:

Amontoem os corpos em Austerlitz e Waterloo.
Enterrem-nos às pazadas e deixem-me trabalhar:
Eu sou a erva que tudo tapa.
(…)
Eu sou a erva.
Deixem-me trabalhar.

(Poema Erva)