Mahmoud Darwich nasceu em 1941 em Al-Birweh, na Palestina. Em 1948, durante a ocupação israelita
fugiu com a sua família para o Líbano, onde viveu num campo de refugiados, e de onde regressou
clandestinamente um ano depois. Sem bilhete de identidade, foi durante muito tempo um “ausente-
presente”, como eram classificadas as pessoas e as povoações não registadas por Israel.
Aos 19 anos publicou o seu primeiro livro Asafir bila Ajnihah, do qual faz parte o emblemático poema
Bilhete de Identidade e em 1964 a obra Awraq al-Zaytun que lhe conferiu o título de poeta da Palestina.
Nessa década esteve várias vezes preso, quase sempre acusado por recitar poesia considerada sediciosa
para o Estado de Israel.
Darwich envolveu-se de várias formas na política palestiniana, mas foi na década de 80 que esse
envolvimento se tornou mais proeminente. Em 1987 foi eleito para o Comité Executivo da Organização
para a Libertação da Palestina e, um ano depois, escreveu a declaração oficial de independência da
Palestina. Passados cinco anos resignou ao cargo em protesto contra os Acordos de Oslo, que considerava
insuficientes para a criação de um estado palestiniano credível e estável.
Após vários anos no exílio, foi autorizado pelo Estado de Israel a regressar, não à “sua” Palestina, mas a
“uma parte” do território palestiniano. Sentindo que o seu dever moral e nacional era não permanecer no
exílio, regressou ao Médio Oriente nos anos 90. A viver entre Ramallah e Omã até ao fim da sua vida,
escreveu inúmeras obras de poesia e prosa, uma delas Fi hadrat al-ghiyab (2006), Na Presença da
Ausência na tradução de Manuel Alberto Vieira.
Mahmoud Darwich morreu em 2008 após uma cirurgia ao coração.
Considerado um dos mais importantes poetas árabes contemporâneos, Darwich é autor de uma extensa e
complexa obra traduzida para mais de vinte línguas, incluindo a hebraica.
“A natureza, mesmo sendo muito bem descrita, é sempre mais bela do que a sua imitação em palavras. A
paisagem da Palestina tem um carácter distinto. Graças ao muito que se escreveu sobre ela e ao que está
descrito no Antigo Testamento não se pode viver sem o eco dessas paisagens. A imagem poética foi
realizada geograficamente. O meu papel como poeta contemporâneo é aliviar a paisagem natural do peso
dessas lendas e do fardo da História. Precisamos de ler a rosa como uma rosa, não a interpretação dela
como o sangue de Adonis. A função do poeta é celebrar a vida, não através da História, mas através da
própria vida.”
“A arte tem algo mágico porque não pretende ter uma função clara. Há bastantes escolas de pensamento
que acreditam que a poesia pode mudar o mundo. Isto é um sonho, todo o poeta sonha que o seu poema
possa mudar o mundo. Mas o que é indispensável é o belo. O que o poema pode fazer é mudar a nossa
forma de ver o mundo. Mudar a forma como nos relacionamos com o mundo porque nos leva ao princípio
do verbo. Mas a poesia não é como um espelho. Eu escrevi uma vez que o poema só muda quem o
escreve. Na poesia há também uma parte de busca pessoal. Voltando à Palestina, o poeta palestiniano
sente que tem de reconstruir um espaço e um tempo que foram quebrados, mas não tem outra ferramenta
que não as palavras. Com elas procura reconstruir uma pátria ou faz das palavras uma pátria. Porque a
pátria última de um poeta são as palavras.”